Num comentário à anterior postagem o nosso diligente e ativo escriba
Fernando Azul fez referência ao escaravelho sagrado alado que decora
a camisola do veraneante (que, note-se, é de fofinho algodão egípcio),
numa foto tirada durante repousantes férias em Tondela.
Pois o escaravelho, com as bonitas cores azuladas do lápis-lazúli, está lá
para compor um dos nomes do famoso rei Tutankhamon (o quarto nome),
que era Nebkheperuré - ou seja, o conjunto artístico é uma frase, ou,
se se preferir, uma locução onomástica faraónica.
Devido a um típico fenómeno de anteposição honorífica, que neste caso
também implica critérios estético-gráficos, o nome começa a ler-se
de baixo para cima: Neb (o pequeno cesto verde), o escaravelho (kheper)
que aqui tem os três tracinhos do plural em baixo para se ler kheperu,
e em cima o disco solar do deus Ré.
O elemento central da composição é pois o escaravelho (kheper, aqui
com o significado de «transformação» ou «forma»), obtendo-se, com
os tracinhos do plural, kheperu («transformações» ou «formas»),
pelo que podemos apreender que «Ré é senhor de transformações».
Na verdade, o deus Ré, ou o seu disco solar, vai tomando várias formas
ao longo do dia, desde o seu nascimento na alvorada (como Khepri),
até ao incandescente sol do meio-dia, caminhando depois, numa grande
bola avermelhada, para o seu ocaso (como Atum).
Enfim, tanta coisa para um expressivo nome real...
O que não falta no Antigo Egito é simbologia: dos nomes próprios aos objetos do quotidiano, inúmeras são as referências ao mundo do divino, invocações a entidades protetoras ou simplesmente observações a aspetos do universo observados, analisados e interpretados pelos próprios Egípcios.
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