Uma interessante observação: o que servia aos antigos, servia às gerações posteriores. Caso do papiro, que mesmo 3 mil anos após o início do Antigo Egito e com a sua completa absorção pelo Império Romano e ruína da sua antiga religião pela ascensão do Cristianismo, continuaria a ser o mais usado suporte de escrita. Eis a notícia que vos apresento a esse respeito, do escritor Luiz Fernando P. Sampaio:
"Uma carta na coleção de papiros da Basileia
descreve assuntos do dia a dia de uma família e ainda é único à sua
própria maneira: fornece conhecimentos valiosos sobre o mundo dos
primeiros cristãos no Império romano, que não foram registrados em
nenhuma outra fonte histórica. A carta foi datada de meados da década de
230 d.C., sendo assim, mais antiga que as outras evidências documentais
do Egito romano previamente conhecidas.
Os
primeiros cristãos do Império romano são frequentemente retratados como
excêntricos, que se retiraram do mundo e eram ameaçados por
perseguição. Isso é contrariado pelo conteúdo da carta do papiro P.Bas.
2.43 da Basileia. A carta contém indicações de que no início do século
terceiro cristãos estavam vivendo fora das cidades, na região do
interior, onde mantinham posições políticas de liderança e não diferiam
do seu ambiente pagão nas suas vidas cotidianas.
Uma família com crenças cristãs
O papiro P.Bas. 2.43 está sob posse da Universidade da Basileia
por mais de 100 anos. É uma carta de um homem chamado Arrianus para o
seu irmão Paulus. O documento se destaca da massa de cartas preservadas
do Egito greco-romano por sua fórmula de saudação final: após reportar
sobre assuntos familiares cotidiano e pedir pelo melhor molho de peixe
como um souvenir, o autor da carta usa a última linha para expressar seu
desejo de que seu irmão prospere “no Senhor”. O autor usa a forma
abreviada da frase cristã “Eu oro para que você esteja bem ‘no Senhor’”.
«O uso dessa abreviação – conhecida como um nomen sacrum
nesse contexto – não deixa dúvidas sobre as crenças cristãs do autor da
carta», diz Sabine Huebner, Professora de História Antiga na
Universidade da Basileia. «É uma fórmula exclusivamente cristã com a
qual estamos familiarizados dos manuscritos do Novo Testamento». O nome
do irmão também é revelador, Huebner segue explicando: «Paulus era um
nome extremamente raro naquele tempo e podemos deduzir que os pais
mencionados na carta eram cristãos e haviam nomeado o filho deles com o
nome do apóstolo, já no início dos anos 200 d.C.».
Através de extensa
pesquisa prosopográfica, Huebner foi capaz de traçar o papiro até a
décadas de 230 d.C. Isso faz com que a carta tenha pelo menos 40 ou 50
anos a mais do que todas as cartas documentadas mundialmente. Ela também
fornece detalhes importantes sobre o contexto social dessa antiga
família cristã: Arrianus e seu irmão Paulus eram jovens, filhos letrados
de uma elite local, proprietários de terra e funcionários públicos.
O
local do papiro também foi reconstruído com sucesso: ele veio da vila
de Theadelphia [atual Batn el-Harit] na parte central do Egito e
pertencia ao famoso arquivo Heroninos, o maior arquivo de papiros do
período romano.
A carta está no coração da nova monografia de Huedbner, Papyri and the Social World of the New Testament [lançada
em Julho]. O livro dela se destina a um público amplo e mostra como o
papiro do Egito greco-romano pode ajudar a ilustrar a vida, social,
política e econômica dos primeiros cristãos. Além disso, esse ano todos
os papiros da Basileia aparecerão numa edição impressa pela primeira vez nos suplementos do Archiv für Papyrusforschung. A publicação digital apareceu em Junho de 2019 na base internacional Papyri.info."
University of Basel. The world’s oldest autograph by a Christian is in Basel. 11 Jul. 2019. Disponível em: https://www.unibas.ch/en/News-Events/News/Uni-Research/The-world-s-oldest-autograph-by-a-Christian-is-in-Basel.html. Acesso em: 14/07/19.
Link: https://antigoegito.org/o-autografo-mais-antigo-de-um-cristao-esta-num-papiro-egipcio/
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