A ideia deste tema surgiu-me após uma visita a um dos locais onde, no nosso país, se podem encontrar sarcófagos egípcios antropomórficos, por sinal, particularmente mal conservados, (a história do costume, problemas logístico/financeiros, etc..) mas não é isso que agora interessa, mas sim a profusa decoração que os antigos egípcios aplicavam nos sarcófagos, e que cabe na categoria da historia de arte de “horror vacui”, que significa precisamente o horror ao espaço vazio, não deixando nenhum centímetro por preencher. As diversas épocas registam, na arte, diversas formas de expressão onde este elemento está presente mas, seguramente com objectivos diferentes dos antigos egípcios. Uma arte que procura a perfeição, não para ser admirada pelos vivos, mas para ficar “escondida por toda a eternidade”, para garantir que o defunto atinja a vida eterna, pode, de acordo com a hierarquia social da época, decorar o mais que pode, na esperança de que quanto mais pode, mais eficaz será.
De facto os sarcófagos egípcios da XXI dinastia (séculos XI-X a. C.) que se encontram no Museu da Sociedade de Geografia de Lisboa (em zona inacessível ao público) são um bom exemplo do preenchimento intensivo do seu exterior.
ResponderEliminarTrata-se do conhecido fenómeno estético de cariz ideológico e profiláctico designado por «horror vacui» que leva a não deixar nenhum espaço por decorar, com muitas imagens míticas e textos mágicos ou identificadores.
Agora bom seria que se conseguissem os apoios necessários para que o Museu da Sociedade de Geografia de Lisboa pudesse dispor de uma sala apropriada para exibir os sarcófagos, as tampas internas e as estatuetas funerárias da sua inédita colecção egípcia.
Estudadas e publicadas já as mais de oitenta estatuetas funerárias do acervo, está agora o Professor Doutor Rogério Sousa a estudar os sarcófagos - e não há em Portugal quem o possa fazer melhor do que ele.
Esses caixões muito ornamentados aparecem logo após o período rococó armaniano-tutankamom e chegam ao seu ápice quando as tumbas de Tebas são sequencialmente pilhadas no final do período dos sucessivos Ramsés e XXI dinastia. Como as tumbas tornaram-se inseguras, a tradicional decoração das paredes destas migrou para o conjunto de ataúdes, assim a armadura de signos, livros exótericos e imagens mágicas acompanhavam o caixão em caso de mudança estratégica de sepultura. Mas houve períodos antes e depois deste em que a ornamentação dos ataúdes era até minguada e sóbria, como no período inicial e médio da XVIII e na XXII dinastias, a carga ornamental era bem menor.Havia muito espaço e as inscrições seguiam apenas as faixas pintadas nos caixões que simulavam as tiras de couro que davam acabamento às múmias.
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