Eis a primeira atividade depois do regresso de mais uma feliz
e exitosa viagem ao Egito, durante o mês de junho, com dois
grupos que participaram em dois percursos diferentes, sendo
um mais curto (com 12 dias), outro mais longo (com 17 dias),
mas ambos vividos de uma forma intensa em plena pandemia.
Com todos os indispensáveis cuidados que a segurança impõe
e o bom senso recomenda (tanto em Portugal como no Egito),
importa superar esta crise tanto quanto for possível, dando um
espaço à cultura e à ciência, inserindo-se neste propósito este
evento da secção de Arqueologia da Sociedade de Geografia.
Para esta sessão da Sociedade de Geografia de Lisboa, no dia
7 de julho, que será por videoconferência, como é próprio dos
atribulados tempos que vivemos agora, foi divulgado entre os
associados e o público em geral que estiver interessado nesta
temática o texto sucinto que se publica nos comentários.
Resumo da conferência
ResponderEliminarA designação de «Livro dos Mortos» é uma tradução moderna da expressiva locução egípcia Rau nu peret em heru (rw nw prt m hrw), que, à letra, vem a dar «Capítulos de sair para o dia», ou «Fórmulas para sair para o dia», ou ainda, numa forma porventura mais sugestiva, e que aparece amiúde em português, «Fórmulas para sair à luz do dia». As várias designações partem do título inicial, e hoje universalmente divulgado, que surgiu em meados do século XIX pela mão do egiptólogo alemão Richard Lepsius, que deu à compilação de fórmulas mágicas que estudou o nome de Todtenbuch. Desde que apareceram na Europa os primeiros exemplares em papiro julgou-se, de uma forma aligeirada, que o «Livro dos Mortos» seria uma espécie de Bíblia para uso dos piedosos Egípcios. E embora os especialistas desde cedo tivessem percebido que esse diversificado ritual de preparação para a outra vida, cujos capítulos figuravam habitualmente em papiros, em estatuetas funerárias, ou em sarcófagos de madeira ou de cartonagem, não era de modo algum uma Bíblia egípcia, essa ideia desvirtuada persistiu no imaginário do público. Mas a verdade é que não se podem fazer tais comparações ínvias, dado que esse «livro», onde ao longo de vários séculos se reuniram os mais díspares textos e gravuras, não é de facto uma Bíblia, nem tem nada a ver com o Corão. Além disso, não se trata de facto de um livro (no sentido habitual do termo) e nem foi feito apenas para mortos – os textos dos rolos de papiro, que também eram pintados nas paredes dos túmulos, seriam «lidos» como «textos de apoio», destinados a ajudar o defunto na sua incerta e difícil viagem rumo ao Ocidente e à Duat (o outro mundo, o paraíso, o Além), onde muitos capítulos do «Livro dos Mortos» iriam demonstrar, supostamente, a desejada eficácia que deles se esperava, mantendo o morto eternamente vivo.