domingo, 31 de janeiro de 2021

Ena, tantos títulos!


Neste fragmento de papiro que mostra apenas uma pequena parte
do exemplar do «Livro dos Mortos» elaborado para um sacerdote 
de Amon chamado Nesiperennebu (nome que tem a tradução de
«O que pertence à casa do ouro») pode ver-se um texto feito com
bonitos hieróglifos em treze colunas verticais por cima das duas
personagens:  o deus Osíris (à esquerda) e o defunto (à direita).

As quatro colunas de texto à esquerda (com signos que se leem
da direita para a esquerda) exaltam o deus Osíris como «senhor
da perenidade, que está à frente dos Ocidentais em Abido, Uen-
nefer, rei dos vivos», e as duas colunas seguintes contêm a lista
de invocações-oferendas que o deus concede a Nesiperennebu,
que corresponde em parte à fórmula de oferenda hotep-di-nesu.

Nesiperennebu, que viveu durante a XXI dinastia, exibe no texto
que começa na coluna n.º 7 (com signos que se leem da esquerda
para a direita), os seus títulos: sacerdote pai divino de Amon-Ré,
rei dos deuses, sacerdote pai divino e escriba do templo de Mut,
a grande senhora de Acheru, sacerdote pai divino de Khonsu em
Tebas Neferhotep, supervisor dos sacerdotes de todos os deuses
do Alto e do Baixo Egito, sacerdote de Tot, o que está em cima
no grande lugar, grande administrador que enche o coração do
seu senhor, escriba arquivista da primeira grande superiora das
damas do harém de Amon (era um importante cargo feminino).

Note-se, finalmente, que o catálogo do Museu Egípcio do Cairo,
editado em 2001 por Alessandro Bongioanni e Maria Sole Croce
apresenta na p. 526 o sacerdote pai divino Nesiperennebu como
«sumo sacerdote de Amon» - bom, não exageremos, na verdade
ele não alcançou esse tão elevado cargo na hierarquia amoniana,
mas os seus títulos não deixam de ser claros e impressionantes.

O «Livro dos Mortos» de Pinedjem I


Fragmento de um exemplar contendo alguns capítulos do «Livro
dos Mortos» produzido para um sumo sacerdote de Amon chamado
Pinedjem I (c. 1060-1020 a. C.), o qual se revestiu com as insígnias
faraónicas, como pela figura à esquerda se vê, isto apesar de haver
um faraó em exercício, governando na cidade de Tânis (no Delta).

Este fenómeno é típico da XXI dinastia, quando alguns pontífices
do poderoso clero de Amon se declararam também reis do Egito,
como ocorreu com Pinedjem I, cujo papiro de encontra no Museu
Egípcio do Cairo (SR 11488), vendo-se o sumo sacerdote perante
o deus Osíris entronizado exibindo os símbolos da realeza eterna.

Apesar da grande importância social e política do seu proprietário,
o «Livro dos Mortos» feito para Pinedjem I só tem oito capítulos, 
colocados sem ordem: o 23, 72, 27, 30 (a pesagem do coração no
tribunal de Osíris e Maet), mais o 71, 141, 110 e o 125 (contendo
a chamada «confissão negativa» feita perante Osíris no tribunal).

sábado, 30 de janeiro de 2021

O vazio na Praia das Maçãs




No breve passeio higiénico que as novas regras de confinamento
permitem perto da residência (e com o respetivo comprovativo),
foi fácil observar o vazio silencioso que paira na Praia das Maçãs
no final do dia, com os moradores acatando, com todo o civismo,
a norma estipulada, estando muitos estabelecimentos fechados.

O campo de jogos e o parque infantil, que estão na primeira foto,
sempre com movimento e uma grande afluência, estão desertos, 
os restaurantes encerrados, o mercado em semi-funcionamento, 
e o Hotel Oceano, mesmo junto da paragem final do tradicional
elétrico, aguarda a chegada do Verão para receber os hóspedes.

De novo o Papiro de Hunefer


Aqui está mais um fragmento do Papiro de Hunefer, mostrando
parte de uma desenvolvida vinheta que acompanha o capítulo 17
do «Livro dos Mortos» feito para o defunto, que está ajoelhado,
em solene pose de veneração perante um relicário destinado aos
seus vasos de vísceras, de onde emerge uma cabeça humana.

Deduz-se que se trate do contentor que protege os quatro vasos
de vísceras do defunto devido à presença das quatro figuras em
forma de múmia que estão identificadas pelos respetivos nomes:
Imseti e Hapi, à esquerda, e Duamutef e Kebehsenuef, à direita,
que são os quatro filhos do deus Hórus, protetores das vísceras.

Assim Hunefer, que a legenda apresenta como Osíris renascido
antecedendo o seu nome (que é uma abreviação de Herunefer),
podia contar com a proteção de Imseti (para o fígado), Hapi (os
 pulmões), Duamutef (o estômago) e Kebehsenuef (intestinos),
tendo o coração um tratamento à parte, ficando no seu lugar.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Gatos (des)confinados



Os gatos vadios e livres da Praia das Maçãs que residem no pátio
situado ao lado do mercado Camarão (que felizmente está aberto
nestes tempos angustiantes de pandemia), mantém-se num felino 
e descontraído confinamento, sendo bem alimentados por alguns
moradores que nos seus passeios higiénicos lhes levam comida.

Confinamento necessário




O País continua o seu amargurado confinamento, provavelmente
até ao próximo mês de março, levando ao encerramento de sítios 
emblemáticos da Praia das Maçãs, como o café Chitas das grandes
e belas torradas em pão saloio, além do restaurante Barmácia, com
o saboroso bacalhau à Brás entre outros pitéus, sendo ainda penoso
ver agora inacessíveis os deliciosos gelados e os crepes do Oceano.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

Desconfinamento do oceano



Nestes tristes dias invernosos e confinados, com o areal da Praia
das Maçãs interditado, o mar por vezes revolto tem levado muita
areia da praia, deixando à mostra as rochas que antes não se viam,
como se atesta na primeira imagem tirada na parte da manhã, com
a maré baixa, vendo-se na segunda imagem a maré cheia da tarde.

Os primeiros faraós (e não só)


Com a qualidade científica que a National Geographic
sempre coloca nas suas edições de temática histórica,
saiu recentemente um número especial sobre o antigo
Egito, dedicado aos primeiros faraós, com incidência
particular na fundação do país das Duas Terras, se bem
que depois trate do Império Antigo e Império Médio,
com amplas alusões a épocas históricas posteriores.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Ervilhas com ovos confinados



Mais uma esmerada e bem confecionada refeição caseira, e desta 
vez foram ervilhas com ovos confinados, perdão, ovos escalfados,
com uma generosa quantidade e qualidade de chouriço e linguiça
do talho do Mário, que mantém a sua fiel clientela nestes tempos
incertos de pandemia (o prato e as fotos são do Miguel Araújo).

«Livro dos Mortos» bem guardado


Este rolo contendo alguns capítulos do «Livro dos Mortos» está
ainda dentro da tosca caixa de madeira com um aspeto inacabado 
que para ele foi produzida na Época Baixa (séculos VII-IV a. C.),
tendo cumprido com sucesso a sua função como se vê na imagem.

O papiro e a caixa que o guardou durante mais de dois mil anos
pertencem ao acervo egípcio do Museu Nacional da Dinamarca,
em Copenhaga (A Ae 5), desconhecendo-se o nome do defunto
para quem o exemplar foi feito (trata-se de um papiro anónimo).

O «Livro dos Mortos» de Nakht


Eis mais um fragmento de um exemplar do «Livro dos Mortos»,
que se encontra no Museu Britânico, Londres (EA10471-10473)
um tanto deslavado, mas legível e com vinhetas identificadoras,
feito para o alto funcionário Nakht, que aqui aparece de braços
erguidos, numa pose de triunfo, no seu traje de linho branco.

À direita pode ler-se o capítulo 64 do «Livro dos Mortos», que
contém a «Fórmula para sair à luz do dia no reino dos mortos»,
vendo-se por duas vezes a rotunda deusa hipopótamo Taueret,
em cima com um escaravelho aludindo ao renascimento, e em
baixo com uma faca e o signo sa, além do olho mágico udjat.

A pequena legenda hieroglífica colocada na vertical em frente
do defunto Nakht apresenta-o como «escriba real verdadeiro»
(sech-nesu maé), seu amado (do faraó) (meri-ef), comandante
do exército de sua majestade (imirá-mechá en hem-ef), Nakht
justificado (maé-kheru). O nome Nakht significa «poderoso».

À esquerda no papiro está o capítulo 151, com uma «Fórmula
 para a cabeça misteriosa», isto é, a máscara funerária que iria
cobrir a cabeça do defunto (tep sechtá), tratando da colocação
do sarcófago e a múmia no túmulo sob os auspícios de Anúbis
e contando com a proteção de Ísis e Néftis, irmãs de Osíris.
 

segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Empadão à Praia das Maçãs



Alternando com encomendas feitas no restaurante «Búzio», graças
ao eficaz serviço de take away nestes nefastos tempos pandémicos,
as refeições feitas em casa, e tomadas num rigoroso confinamento,
propiciam requintes de culinária, em que os confinados se podem
tornar exímios chefes, como se nota por este magnífico empadão,
confecionado com a lídima carne bem passada do talho do Mário
(o magnífico empadão dourado e as fotos são do Miguel Araújo).

Delicadezas de Kha e Merit



Entre o variegado espólio tumular do funcionário Kha e de Merit
estavam objetos de toucador para a toalete do casal, vendo-se em
cima a tampa de uma caixa de madeira pintada em nome de Kha,
com um texto típico de oferenda, e em baixo uma elegante caixa
com diversos recipientes para óleos perfumados da esposa Merit.

A inscrição pintada na caixa de Kha diz:  «Oferta feita pelo rei
a Osíris, deus grande, governante da eternidade, para que ele dê
invocações-oferendas em pão, cerveja, carne de bovino e aves,
baixela, roupas, incenso, óleos, tudo coisas boas e puras, para
o ka do favorecido de Amon, Kha, justificado (justo de voz).»

Em transcrição corrente, para se perceber o essencial da prosódia
que teria a frase, será:  «Hotep-di-nesu (en) Usir, netjer aá, keka
djet, di-ef peret-kheru (em) té, henket, kau, apedu, chés, menkhet,
sennetjer, merhet, khet nebet nefert uebet, en ka en hesi en Amon,
Kha, maé-kheru». A outra caixa diz que é «para o ka de Merit».

A fórmula de oferenda é muito comum em objetos funerários,
sendo conhecida por fórmula hotep-di-nesu, ou seja «oferta que
faz o rei», não ao defunto mas sim ao deus Osíris, para que este,
por sua vez, conceda ao morto invocações-oferendas, saídas da
sua voz (peret-kheru), seguindo-se depois a lista das oferendas.

No final da lista dos produtos oferecidos, que convém estarem
todos bons e puros (nefert uebet), segue-se o nome do defunto
e no final a declaração tranquilizadora de maé-kheru (ou maet-
kheru se for uma senhora), asseverando que ele está justificado
porque no tribunal de Osíris foi declarado «justo de voz».

domingo, 24 de janeiro de 2021

O túmulo de Kha e Merit




Em 1906 Ernesto Schiaparelli descobriu o túmulo de Kha e Merit
que estava perto da capela funerária do casal, em Deir el-Medina,
necrópole de Lucsor Ocidental, vendo-se em cima uma entrada
escavada na rocha calcária que dava acesso a um poço profundo
com cerca de 8 metros até à câmara funerária (segunda imagem).

Durante mais de três milénios ninguém tinha lá entrado, e então
foi possível inventariar o espólio intacto do casal, com destaque
para os sarcófagos e ataúdes antropomórficos de madeira pintada
com revestimento de ouro nos rostos, leitos, cadeiras, recipientes.
caixas, estatuetas, tecidos e um exemplar do «Livro dos Mortos».
 

Caixa de roupa de Kha e Merit


No túmulo intacto do funcionário Kha, foram encontrados vários
objetos, como esta caixa de madeira pintada para guardar roupa,
onde Kha está representado com a sua esposa Merit, mais os dois
filhos do casal, uma rapariga também chamada Merit, e um rapaz
de nome Amenemope, que estão de pé oferecendo a seus pais um
altar pejado de vitualhas, com legendas hieroglíficas em cima.

As legendas referem Merit como «sua esposa (irmã), sua amada»,
depois está «Kha, justificado perante o deus grande», e ao centro
o texto típico das oferendas: «Oferta que faz o rei (hotep-di-nesu)
a Osíris, deus grande, governante da eternidade, para que ele dê
todas as invocações-oferendas em pão, cerveja, carne de bovino
 e aves», ficando a legenda por concluir (em geral ela é maior).

Kha exibe noutros materiais do espólio os títulos de escriba real
(sech nesu), arquiteto e supervisor dos trabalhos no grande lugar,
isto é, a necrópole real (imirá-kat em set aat), entre outros, tendo
vivido durante os reinados de Amen-hotep II (1425-1400 a. C.),
Tutmés IV (1400-1390 a. C.), e Amen-hotep III (1390-1353
 a. C.), na região de Tebas-Uaset, na altura a capital do Egito.
 

sábado, 23 de janeiro de 2021

O «Livro dos Mortos» de Kha



Eis dois fragmentos de um rolo de papiro, encontrado em 1906
pelo egiptólogo italiano Ernesto Schiaparelli em Deir el-Medina 
no túmulo do funcionário Kha, e que hoje se guarda no Museu
Egípcio de Turim (n.º 8438), contendo 33 capítulos do «Livro
dos Mortos» (no total a coletânea inseria quase 200 capítulos).

O primeiro fragmento exibe o início da coletânea reunida para
Kha, com o capítulo 1 redigido em escrita retrógrada, ou seja,
tendo leitura da esquerda para a direita, apesar dos hieróglifos
se apresentarem com desenho invertido (deviam estar a olhar
para a esquerda), sendo os signos iniciais a vermelho (rubro).

O título do capítulo 1 do «Livro dos Mortos» diz que se trata
do «Início das fórmulas para sair à luz do dia, para entrar e sair
do reino dos mortos» e começa com «Salve touro do Ocidente,
assim diz Tot ao senhor da perpetuidade, eu sou o deus grande,
protetor, proclamei Osíris justificado contra os seus inimigos».

Na segunda imagem está o defunto Kha com sua esposa Merit
venerando o deus Osíris com os seus tradicionais adereços da
realeza eterna: coroa branca com plumas e cornamenta, a pera
divina, os cetros heka, nekhakha e uase, sendo ainda de referir
o sudário branco, o colar e a pele esverdeada do rei da Duat.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Praia das Maçãs confinada





Tal como muitos locais do nosso país, também a Praia das Maçãs
entrou em inoportuno confinamento ficando interditado o acesso
ao areal, como se vê na primeira imagem, onde se pode apreciar
uma expressiva metáfora da inutilidade:  a proibição de entrada 
de cães na praia (que muitos donos não cumprem), a velha bola
que tão cedo não rolará no areal, e a marca de escrevinhadores
de muros e conspurcadores de paredes (que já cá chegaram).

A segunda imagem mostra os «Sabores da Praia» encerrados,
a esperar por melhores dias (como de resto outros restaurantes
da zona), e na terceira vê-se o «Búzio», também ele encerrado,
mas mantendo, felizmente, o serviço de take away que o cartaz
à entrada publicita  -  e por isso foi possível fazer a encomenda
do gordo, vistoso e saboroso robalo grelhado que a última foto
documenta, propiciando um almoço confinado mas opíparo. 

O «Livro dos Mortos» de Taiesnakht


Este fragmento de um rolo de papiro com 8,65 metros e em bom
estado de conservação foi feito para a dama Taiesnakht, datando
da primeira fase da longa Época Greco-romana (será do período
alexandrino, de 332 a 305 a. C., ou do período ptolemaico, 305
a 30 a. C.), mostra o estilo das figuras esguias típico da época.

Neste fragmento colorido que se encontra hoje no Museu Egípcio
de Turim (n.º 1833), podemos ver a cena de pesagem do coração
da defunta, encontrando-se entre os pratos da balança os deuses
Anúbis e Hórus virados para a esquerda, tal como Tot e a terrível
Ammut, mais os quatro filhos de Hórus sobre os lótus abertos.

Note-se ainda que à direita do papiro está a deusa Maet a receber
a dama Taiesnakht na sala do tribunal de Osíris, e a defunta entra
com um belo vestido de linho branco e uma requintada cabeleira
encimada por um cone de perfume, enquanto em cima desta cena
se alinham os 42 assessores do tribunal (um de cada província).

segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Antigo Egito - 7.ª sessão



No próximo sábado, dia 23 de janeiro, realiza-se a 7.ª sessão do curso
sobre o antigo Egito, que está a decorrer no Solar Condes de Resende,
em Canelas, com o alto patrocínio da Câmara Municipal de Vila Nova
de Gaia, sendo dedicada ao tema que na primeira imagem se anuncia:
«A Arte Funerária do Antigo Egito», pelo Professor Doutor Rogério
Sousa, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (decorrendo
 a sessão por videoconferência devido à situação pandémico-covídica).

Feijoada à Praia das Maçãs



Esquecendo por momentos os vários e diferentes restaurantes
que existem na Praia das Maçãs, e que são para todos os gostos
desde o excelente Búzio ao simpático Barmácia, o popular Rijo,
a concorrida pizaria Don Mangiare e o arejado Neptuno, mais 
os Sabores da Praia, entre outros, que dão bom nome ao local,
convém também comer em casa fazendo jus ao confinamento.

Com os dias frios que se têm sucedido neste tempo invernoso
e pandémico, o confinamento caseiro pode propiciar repastos
substanciais e retemperadores, contra o frio e contra o covid,
e um dos pratos recomendados será uma boa feijoada à Praia
das Maçãs, sem os toucinhos e os chispes da célebre feijoada 
à transmontana (a feijoada e as fotos são do Miguel Araújo).
 

domingo, 17 de janeiro de 2021

O «Livro dos Mortos» de Iuefankh


 Este fragmento pertence a um «Livro dos Mortos» que foi feito
para Iuefankh, no período ptolemaico (c. 300-30 a. C.), estando
hoje no Museu Egípcio de Turim (n.º 1791), sendo um exemplo
dos papiros monocromáticos desse período feitos a traço fino.

Foi o Papiro de Iuefankh que serviu de base a Richard Lepsius
para elaborar a sua versão primordial da coletânea de capítulos
à qual deu o título de Das Todtenbuch der Ägypter nach dem
hieroglyphischen Papyrus in Turin, que publicou em 1842.

A partir de então a coletânea ficou conhecida pela designação
de «Livro dos Mortos», seguindo-se outras traduções, ainda
no século XIX, feitas por Édouard Naville e Wallis Budge,
entre outros egiptólogos que se dedicaram ao assunto.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Entardecer na Praia Grande


Estes derradeiros momentos de desconfinamento foram bem fruídos
com um longo e salutar passeio pedestre desde a Praia das Maçãs até 
à Praia Grande, onde o Miguel Araújo captou esta bela e romântica
imagem no lusco-fusco do entardecer, antes de ficarmos confinados.

Na esplanada do café Búzio


A poucas horas da entrada em vigor das novas regras estipuladas
para mais um rigoroso (e longo) confinamento, soube bem tomar 
a tradicional bica na agradável esplanada do café Búzio, como se 
fosse a despedida de um espaço encerrado nas próximas semanas.

«Livro dos Mortos» deteriorado


Nem todos os papiros que contêm os vários capítulos do «Livro
 dos Mortos» se apresentam nas melhores condições, por vezes
encontram-se exemplares que estão bastante deteriorados pela
passagem dos milénios, como este fragmento que pertenceu
ao funcionário Amenemhat e que hoje se conserva no Museu 
Real de Ontário, no Canadá (ROM 910.85.236.12).

Dito de outro modo...


Voltamos de novo ao papiro feito para Irtiueru, que no documento
é apresentado como sacerdote mas sem especificar em que templo
ou a que divindade prestava serviço, datado do período ptolemaico
(c. 300-30 a. C.), com a curiosa particularidade de aqui podermos
ver destacadas no texto hieroglífico cursivo, e em fundo mais claro, 
três expressões de alternância que se leem ki djed e que significam
 «dito de outro modo», «de outra forma», ou ainda «outra versão».

A complexidade de muitos capítulos reunidos para figurarem com
as vinhetas respetivas nos exemplares do «Livro dos Mortos», que
foi sendo composto ao longo de vários séculos, perturbou também
os redatores dos textos originais, já que os próprios escribas viam
essa tarefa como sendo deveras complicada porque não entendiam
por vezes os textos de tempos mais antigos que estavam a copiar,
os quais não condiziam entre si por serem de épocas diferentes. 

No «Livro dos Mortos» em tradução portuguesa que agora está
a ser preparado, a expressão egípcia ki djed é interpretada como
«outra versão», registando assim a indecisão do escriba perante
as alternativas. Eis alguns exemplos, retirados do capítulo 17,
mostrando o uso de ki djed destacado no original a vermelho:

É o Ocidente, que foi estabelecido para os bau dos deuses
de acordo com as ordens de Osíris, senhor do deserto ocidental.
Outra versão: É o Ocidente, para onde Ré envia os deuses
e os faz lutar. Eu conheço o deus grande que lá se encontra.
Quem é ele?
É Osíris. Quanto ao que existe lá é o deus grande.
Outra versão: É o seu cadáver.
Outra versão: É a eternidade e a perpetuidade.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

De novo o Papiro de Nesichutefnut


Depois de ter sido mostrado um fragmento do papiro contendo
 parte do capítulo 145 do «Livro dos Mortos» encomendado por
Nesichutefnut, aqui está outro fragmento com alguns capítulos
dessa coletânea, redigida em hierático e exibindo vinhetas mais
pequenas que as de épocas anteriores ao período ptolemaico,
altura em que viveu Nesichutefnut, cujos títulos o apresentam
como sacerdote de Khonsu e quarto sacerdote de Osíris, além
de sacerdote dos «Falcões que vivem nas suas árvores» (um
título desconhecido em épocas anteriores ao século IV a. C.).

Da direita para a esquerda vemos o capítulo 79 (com a fórmula
para tomar o aspeto de um venerável no tribunal), o 80 (com a
fórmula para tomar o aspeto de um deus capaz de transformar
a escuridão em luz), o 81 (para tomar o aspeto de um lótus),
o 82 (tomar o aspeto de Ptah, comer pão e beber cerveja), o 83
(tomar o aspeto de uma garça benu), o 84 (tomar o aspeto de 
uma garça chenti), o 85 (tomar o aspeto de um ba vivo), o 86
(tomar o aspeto de uma andorinha) e o 87 (tomar o aspeto de
uma serpente), vendo-se ainda partes dos capítulos 88 e 89.

Sol de Inverno


Para aproveitar o débil mas ainda assim luminoso sol de Inverno
que hoje se fez sentir na Praia das Maçãs, com um lindo céu azul
e uma temperatura amena, justificou-se um longo passeio junto
ao areal e depois uma ida ao convidativo restaurante Búzio.

Depois de uma lauta, opípara e robusta refeição de bife da vazia,
bem antecedido por uma deliciosa entrada de camarão à guilho,
seguiu-se a tradicional bica tomada ali perto no café Búzio, com
o desconfinado totalmente desabituado de atividades ao ar livre.

terça-feira, 12 de janeiro de 2021

O «Livro dos Mortos» de Nesichutefnut


Neste fragmento do Papiro de Nesichutefnut, também conhecido
como Papiro Ryerson, do período ptolemaico (c. 300-30 a. C.), 
que se encontra no Instituto Oriental da Universidade de Chicago
(OIM.E9787), pode ver-se parte do longo capítulo 145 do «Livro
dos Mortos», com o «Início do percurso pelas portas do Campo
dos Juncos para a morada de Osíris» (são vinte e uma portas),
estando o papiro redigido em escrita hierática, típico na época.

O defunto teria de atravessar essas portas e tinha de saber o nome
dos seus guardiões, nomes de resto complicados e estranhíssimos,
mas tendo à mão o seu exemplar do «Livro dos Mortos» contendo 
o capítulo 145 não havia problema: esses nomes estavam lá todos
para que Nesichutefnut pudesse airosamente atravessar o Campo
 dos Juncos, o Sekhet-iaru (os Campos Elíseos dos Gregos), que
 completava o Campo das Oferendas (Sekhet-hetepu), no Além. 

segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

O «Livro dos Mortos» de Irtiueru



Eis aqui dois fragmentos do Papiro de Irtiueru, datado do período
ptolemaico (c. 300-30 a. C.), que se encontra no Instituto Oriental 
da Universidade de Chicago (OIM.E10486), também conhecido por
Papiro Milbank, tendo sido adquirido no Cairo em 1919 por James
Henry Breasted (1865-1935), fundador do Instituto Oriental, sendo
 também considerado como o fundador da egiptologia americana.

No primeiro fragmento vê-se uma parte da vinheta do capítulo 110
do «Livro dos Mortos», que é dedicado ao Campo das Oferendas,
o Sekhet-hetepu, onde o defunto se dedica aos trabalhos agrícolas
nos úberes campos do Além, e no segundo fragmento encontra-se
a bem conhecida cena da pesagem do coração no tribunal de Osíris
e de Maet, com a presença de Hórus, Anúbis e da terrível Ammut,
ilustrando o longo capítulo 125 (que inclui a «confissão negativa»).

sábado, 9 de janeiro de 2021

A deusa Hathor no «Livro dos Mortos»


A benévola deusa Hathor é mencionada em diversos capítulos 
do «Livro dos Mortos», estando também em algumas vinhetas
que ilustram os capítulos da coletânea, mas a ela são dedicados
em especial o capítulo 103, com a «Fórmula para estar ao lado
de Hathor», e o capítulo 186, intitulado «Hathor e as barcas»,
que são a barca Hehu (de milhões de anos) e a barca Nechmet.

O capítulo 186 está em cima reproduzido num belo fragmento
do Papiro de Ani que se guarda no Museu Britânico (EA10470)
e que foi encontrado em Lucsor Ocidental no século XIX, com
um curto texto acompanhado por uma expressiva vinheta onde
se vê a deusa Taueret (ao centro) e Hathor, saindo da montanha 
ocidental entre um bosque de papiros, e uma capela funerária.

O texto, redigido em desenvoltos hieróglifos cursivos, menciona
«Hathor, senhora do Ocidente, a do Ocidente, a senhora da terra
sagrada, olho de Ré que está na sua fronte, bela de rosto na barca
Hehu de milhões de anos, um lugar de repouso para quem pratica
a maet, barca para a travessia dos seus eleitos, que fez a grande
barca Nechmet para (fazer) atravessar o justificado».

O Ocidente era a região funerária, uma terra sagrada (ta djeser),
percebendo-se aqui que a beneficente Hathor assume um papel 
de relevo no transporte dos que passaram com êxito no tribunal
de Osíris e que vão (de barco, claro) para o Além, e a presença 
da deusa Taueret reforça a ideia de proteção para o defunto, que
generosamente oferece à deusa um altar recheado de vitualhas.

Note-se ainda que a deusa Hathor se apresenta em forma de vaca
com a típica cornamenta liriforme emplumada com o disco solar
e um colar menat, e que à esquerda se encontra uma divindade
sincrética que a legenda identifica como Sokar-Osíris (mas que
ilustra outro capítulo), mas há autores que identificam a figura
central como a deusa Ipet e a vaca como a deusa Mehetueret.

Iguarias desconfinadas



Em tempos severos de confinamento e de um agreste frio polar,
o ideal será preparar as refeições em casa, e é isso que a família
do confinado jubilado tem feito na Praia das Maçãs, com a casa
sempre aquecida e beneficiando do clima mais ameno da região,
providenciado pelos ares marítimos que o oceano nos oferece,
convidando a um passeio, mas respeitando as normas vigentes.

Mas quando se tem perto de casa um restaurante de excelência
como o Búzio, então convém de vez em quando ir até lá provar
algumas iguarias de tacho que a copiosa ementa propõe, desde 
os filetes de polvo com arroz de feijão (primeira foto) ao arroz
de garoupa com amêijoas e gambas (segunda foto) belos pratos
completamente desconfinados e servidos com abundância.