sábado, 9 de janeiro de 2021

A deusa Hathor no «Livro dos Mortos»


A benévola deusa Hathor é mencionada em diversos capítulos 
do «Livro dos Mortos», estando também em algumas vinhetas
que ilustram os capítulos da coletânea, mas a ela são dedicados
em especial o capítulo 103, com a «Fórmula para estar ao lado
de Hathor», e o capítulo 186, intitulado «Hathor e as barcas»,
que são a barca Hehu (de milhões de anos) e a barca Nechmet.

O capítulo 186 está em cima reproduzido num belo fragmento
do Papiro de Ani que se guarda no Museu Britânico (EA10470)
e que foi encontrado em Lucsor Ocidental no século XIX, com
um curto texto acompanhado por uma expressiva vinheta onde
se vê a deusa Taueret (ao centro) e Hathor, saindo da montanha 
ocidental entre um bosque de papiros, e uma capela funerária.

O texto, redigido em desenvoltos hieróglifos cursivos, menciona
«Hathor, senhora do Ocidente, a do Ocidente, a senhora da terra
sagrada, olho de Ré que está na sua fronte, bela de rosto na barca
Hehu de milhões de anos, um lugar de repouso para quem pratica
a maet, barca para a travessia dos seus eleitos, que fez a grande
barca Nechmet para (fazer) atravessar o justificado».

O Ocidente era a região funerária, uma terra sagrada (ta djeser),
percebendo-se aqui que a beneficente Hathor assume um papel 
de relevo no transporte dos que passaram com êxito no tribunal
de Osíris e que vão (de barco, claro) para o Além, e a presença 
da deusa Taueret reforça a ideia de proteção para o defunto, que
generosamente oferece à deusa um altar recheado de vitualhas.

Note-se ainda que a deusa Hathor se apresenta em forma de vaca
com a típica cornamenta liriforme emplumada com o disco solar
e um colar menat, e que à esquerda se encontra uma divindade
sincrética que a legenda identifica como Sokar-Osíris (mas que
ilustra outro capítulo), mas há autores que identificam a figura
central como a deusa Ipet e a vaca como a deusa Mehetueret.

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