domingo, 7 de fevereiro de 2021

«Livro dos Mortos» parietal


Embora a coletânea de fórmulas conhecidas tradicionalmente
como «Livro dos Mortos» fosse redigida sobre papiro e faixas
mortuárias de linho, algumas dessas fórmulas, organizadas em
capítulos, também eram inscritas em sarcófagos e em paredes
tumulares, como na imagem se vê, no túmulo do funcionário
Irinefer (da XIX dinastia), em Lucsor Ocidental (TT290).

A pintura mostra o defunto na barca solar com a garça benu
(a fénix renascida, como os Gregos depois a interpretaram),
estando entre Irinefer e a grande ave o signo hieroglífico que
se lê chemés e significa «seguidor», sendo de notar o mágico
olho de Hórus, o udjat, na proa da embarcação, enquanto na
popa, com os lemes laterais, está um disco solar vermelho.

À esquerda, caminhando para a proa, está o filho de Irinefer
chamado Seni, com o título de servidor no Lugar de Verdade
em egípcio sedjem-ach em set-maet, um título que pode ser
traduzido à letra como «aquele que escuta o apelo no Lugar
de Verdade»; esse lugar era a necrópole (Lucsor Ocidental)
e o apelo era para tratar dos túmulos dessa área cemiterial.

Trata-se, em suma, de uma grande vinheta adornando uma
das paredes do túmulo de Irinefer, para ilustrar a inscrição
hieroglífica que lá está lendo-se da esquerda para a direita,
e que corresponde ao capítulo 83 do «Livro dos Mortos»,
contendo a fórmula para o defunto poder tomar o aspeto
de uma garça benu, que é a ave lá representada na barca.
 

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