O capítulo 6 do «Livro dos Mortos» é um dos mais conhecidos
e difundidos daquela coletânea de fórmulas mágicas destinadas
a ajudar o defunto no seu percurso para o Além e para a fruição
plena da vida eterna nos úberes campos de Osíris - o problema
é que alguém tinha de trabalhar nessas terras férteis, e por certo
não seria o defunto a fazê-lo, a tarefa ficava para as estatuetas.
As estatuetas funerárias, destinadas à corveia eterna no Além,
que no Império Novo se chamavam chauabtis, depois uchebtis,
podiam ser de madeira, pedra, metal, terracota a faiança, sendo
colocadas no túmulo em maior ou menor quantidade, dependia
das posses do defunto, e muitas delas exibiam o capítulo 6 que
instruía as estatuetas sobre as tarefas agrícolas a desempenhar.
Na primeira imagem estão chauabtis de faiança azul, seguindo
as tradições do Império Novo, e dois uchebtis com versões do
capítulo 6 de épocas posteriores, vendo-se na segunda imagem
um belo chauabti de bronze (da XVIII dinastia), com um texto
hieroglífico gravado que exemplifica a versão desenvolvida do
capítulo. Eis a tradução da inscrição do chauabti de Hesmeref:
«Que brilhe o Osíris Hesmeref. Diz ele:
Ó este chauabti, se o Osíris Hesmeref justificado,
for designado na terra sagrada (o reino dos mortos)
para plantar os campos, encher os canais de água
e transportar a areia de oriente para ocidente,
repara, a tarefa ser-te-á imposta
como a um homem nas suas funções.
Se fores designado a qualquer momento tu dirás:
"Aqui estou! Aqui estou para fazer as suas tarefas!"»
A última foto mostra quatro bonitos uchebtis da Época Baixa,
feitos de faiança azul, para o funcionário Psametek (da XXVI
dinastia), que revelam as caraterísticas destas novas estatuetas
funerárias: a pera divina no queixo, a base quadrangular e um
pilar dorsal (que aqui não se vê), além de exibirem um sorriso
afável de confiança na eternidade, o chamado «sorriso saíta»,
porque a XXVI dinastia tinha a sua capital na cidade de Sais.
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