segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Inferno de antes..

Se as inegáveis semelhanças dos 10 mandamentos bíblicos com a confissão negativa do capítulo 125 do livro dos mortos nos dão que pensar, o que dizer então do conceito de Inferno? Bom, de acordo com Josép Padró, os antigos egípcios não tinham propriamente a conceptualização formal de um inferno, ou seja, o maior castigo para os que não superavam o tribunal de Osíris era, coisa já de si absolutamente terrível, a não imortalidade. Contudo, um texto escrito em demótico, datado do séc VI a.c. , os Prodígios Mágicos de Siosires, contem passagens particularmente reveladoras, de que, numa tradução livre do castelhano, vou enumerar apenas algumas passagens:

“ O pequeno Siosires pegou na mão de seu pai, Setne, (filho de Ramsés II), e conduziu-o a um lugar que ele conhecia na montanha de Menfis, ali haviam 7 grandes salas, nas quais se apinhavam homens de todas as condições…ao entrarem na 4ª sala Setne viu pessoas que corriam, agitadas, enquanto alguns burros comiam sobre as suas costas, outros tinham a sua comida, água e pão, pendurados sobre as suas cabeças, esticando os braços para os alcançar, enquanto outros cavavam valas debaixo dos seus pés para os impedir…na 5ª sala Setne viu uns defuntos em posição venerável, enquanto os que haviam sido acusados de cometer crimes, estavam de pé atrás da porta, suplicantes e com a dobradiça da porta espetada num olho.”

Bom, meus caros, por aqui me fico, para depressões já nos basta a crise..

Fonte: Paper de Josep Padró "El mal, el pecado y el castigo en el antiguo Egipto"


3 comentários:

  1. Tal como os autores bíblicos se inspiraram em fontes sumérias para descrever cenas como o Dilúvio e a Arca de Noé, podemos imaginar que os escritores cristãos coptas do Egito tenham se inspirado nesses textos escritos em demótico para desenvolverem uma concepção de Inferno semelhante à que hoje entendemos...quem sabe?

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  2. Muito interessante amigo António. Não conhecia esse texto.
    Parece de facto existir uma influência clara no que veio a ser o cristianismo.
    JP

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  3. Esta interessante postagem, em boa hora providenciada pelo nosso escriba António Luís, permite que eu remeta os leitores mais interessados no tema para o citado texto do egiptólogo catalão Josep Padró que foi publicado na última revista Cadmo (nº 20), pp. 11-28.

    Quanto à visita de Setne ao «Inferno», o texto mais completo poderá ser apreciado em Mitos e Lendas do Antigo Egipto, Lisboa: Centralivros, Livros e Livros, 2005, pp. 263-276 (Setne-Khaemuaset e Siosíris).

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