segunda-feira, 16 de janeiro de 2023

Vaso de vísceras de Iunefer


Continua exposto na galeria de arte egípcia do Museu Calouste
Gulbenkian um vaso de vísceras de calcário, feito para Iunefer,
que tinha o cargo de supervisor do armazém, e que terá vivido 
durante o longo reinado de Amenemhat III (c.1825-1780 a.C.),
na XII dinastia, a julgar pelo local onde este objeto foi achado,
Hauara, algures na área onde existiu o chamado «Labirinto».

A inscrição hieroglífica, gravada na pança do vaso de vísceras
em três colunas verticais, afirma: «Neit protege Duamutef que 
aqui está, o venerável de Duamutef, o supervisor do armazém,
Iunefer, justificado e senhor de veneração», merecendo relevo
a alusão à deusa Neit como eficaz adjuvante de Duamutef (um
dos quatro filhos de Hórus), protegendo o estômago do morto.

Cada um dos quatro filhos do deus Hórus tinha a sua função,
eivada de clara profilaxia tanatófila, para bem do defunto:
Imseti, com cabeça humana, protegia o fígado (com Ísis)
Hapi, cabeça de babuíno, protegia os pulmões (com Néftis)
Duamutef, cabeça de canídeo, o estômago (com Neit)
Kebehsenuef, cabeça de falcão, os intestinos (com Serket)

Acrescente-se que Neit era uma deusa caçadora, cultuada
sobretudo em Sais (no Delta), e o título de venerável pode
ser uma boa tradução para o estatuto egípcio de imakh, de
que os defuntos se reclamavam, para além do digno título 
de justificado (maé-kheru), atribuído aos defuntos que, no
tribunal de Osíris-Maet, tinham declarado a sua inocência.

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