domingo, 15 de janeiro de 2023

Vaso de vísceras na Gulbenkian


Está exposto na galeria de arte egípcia, a primeira de muitas
salas do excelente percurso museológico que se podem visitar
no Museu Calouste Gulbenkian em Lisboa, o vaso de vísceras
de calcário que foi feito para o funcionário Iunefer, designado
na legenda da peça como sendo um «vaso canópico». o que é
claramente incorreto, porque se trata de um vaso de vísceras.

Os textos egiptológicos de origem inglesa, francesa, alemã ou
outra, que chegam ao nosso país terão de sofrer as necessárias 
adaptações para a terminologia egiptológica portuguesa que já
existe em Portugal há muitos anos  e uma das fontes fiáveis,
sérias e úteis será o Dicionário do Antigo Egipto (2001),
agora esgotado mas ainda consultável em diversas instituições.

Os chamados vasos canópicos continham água do Nilo e eram
utilizados em cerimónias de culto ao deus Osíris, sobretudo na 
cidade de Canopo, na costa mediterrânica do Delta, que já não
existe (e a designação, cunhada por egiptólogos e antiquários
do século XIX, vem do nome dessa antiga urbe greco-egípcia)
enquanto os vasos de vísceras serviam para guardar vísceras!

A peça aqui referida, um interessante e deveras sugestivo vaso
de vísceras, datado do Império Médio (o estilo dos hieróglifos
que lá estão gravados indiciam também essa época histórica),
insere-se num generoso programa de intercâmbio cultural que
prevê o empréstimo mútuo de objetos, tendo este sido cedido,
até 10 de abril, pela Ny Carlsberg Glyptotek, em Copenhaga.

Devido ao incessante assalto aos túmulos egípcios (ao longo 
de muitos séculos), os conjuntos de quatro vasos de vísceras 
que compunham o tradicional espólio contendo os órgãos do
defunto raras vezes aparecem completos, existindo no nosso
país alguns exemplares isolados em várias coleções públicas
e privadas, num total de treze, de pedra, madeira e terracota.

1 comentário:

  1. Uma fonte de consulta deveras útil para esta temática pode ser o artigo «Vasos de vísceras em colecções egípcias de Portugal», Cadmo, 16, Lisboa: Centro de História da Universidade de Lisboa, 2006, pp. 123-135, o qual descreve os treze vasos de vísceras do antigo Egito existentes no nosso país.

    ResponderEliminar