quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Laços de família


   Do período ramséssida, surge-nos esta bela imagem, proveniente do túmulo TT359, última morada do chefe dos trabalhadores de Deir-el-Medina, Inherkhau. Este homem, não sendo pertencente à alta sociedade egípcia da época, destaca-se em parte pela invulgaridade de ter mandado construir dois túmulos distintos. Em virtude da inesgotável informação a respeito desta imagem e deste funcionário do Império Novo, cingir-me-ei aos dados principais:

      - Inherkhau significa "Onuris aparece", sendo que Onuris é uma adulteração grega para o deus Iny-hor. Terá sido uma espécie de supervisor dos trabalhos de construção tumular régia no Vale dos Reis e aparentemente descende de uma linhagem de homens que exerceram essas mesmas tarefas ao longo de várias gerações. Terá vivido algures nos reinados de Ramsés III e Ramsés IV, ou seja cerca de 1150 a.C.

      - nesta imagem, presente na câmara G do túmulo TT359, Inherkhau está acompanhada da sua esposa Wabet "A Pura" e de quatro jovens filhos, um rapaz (o qual não possui brincos nas orelhas) e três raparigas. O momento é de intimidade doméstica com Inherkhau a acariciar a trança da filha mais velha à sua frente, enquanto esta dá a uma irmã mais nova uma pequena ave malhada, ao passo que o rapaz se apoia nos joelhos da mãe, Wabet. Esta, por sua vez, abraça o seu marido. Atrás, a terceira filha segura na mão outra pequena ave malhada.

      - em frente a Inherkhau e respetiva família, surgem dois homens, o primeiro dos quais lhe entrega uma estatueta de Osíris e uma pequena caixa, que contém escrito o título de Inherkhau. O segundo homem entrega um pequeno cântaro ou vaso. Ambos atuam como servidores da família de Inherkhau no mundo do além para poupar-lhes as tarefas de cariz manual.

   A profunda intimidade entre os membros da família de Inherkhau é um testemunho do grande valor e importância concedida pelos Antigos Egípcios à instituição familiar, base da sociedade. O próprio papel de Inherkhau - «supervisor das construções do Senhor das Duas Terras» - também dispõe de um peso social considerável: afinal Inerkhau viveu numa era de perturbações políticas, sociais e económicas, o que muitas vezes se traduzia em empobrecimento artístico e cultural, mas os seus túmulos não evidenciam esse declínio, pois é ricamente decorado e ornamentado, atestando a sua proeminência na época.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Erotismo e sexualidade


Eis uma das bonitas imagens que constam no livro sobre Erotismo 
e Sexualidade no Antigo Egito, que teve a sua sessão de lançamento 
na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa 
no passado dia 19 de dezembro, com a apresentação da obra 
a cargo do egiptólogo Doutor Telo Ferreira Canhão.

O autor aproveita o ensejo desta postagem para muito justamente 
parabenizar as Edições Colibri e os seus eficazes profissionais 
pela qualidade estético-gráfica do volume e para agradecer 
aos muitos amigos e admiradores da civilização egípcia
 que estiveram presentes naquela sessão.

Quanto ao conteúdo da obra, isso dirão os leitores, esperando-se
 convictamente que ela possa esgotar, como sucedeu ao volume 
que em 1995 foi editado com o título de Estudos sobre Erotismo 
no Antigo Egipto, e que serviu de inspiração para este novo livro.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Prendas generosas


Um dos temas mais tradicionais da variada decoração de alguns templos
egípcios são as figuras de fecundidade que simbolizam as oferendas
que cada província faz ao rei e à divindade que nesse templo
 é cultuada - e neste caso o rei, cujo nome lá consta na inscrição,
é o famoso Ramsés II, o deus é Osíris e o templo é em Abido.

São imagens de abundância, mostrando a frutuosa produtividade
de cada província do Egito, com as mais diversas vitualhas
que as personificações dessas provincias transportam - e hoje,
nesta quadra festiva que atravessamos e que não ameniza a crise,
diríamos que são prendas generosas.

A figura da esquerda é um Nilo hermafrodita que aqui representa
a 15ª província (Khmunu, a dos Oito), ou província da Lebre,
que hoje é El-Achmunein, e a da direita é uma figura feminina
correspondente à 14ª província (Kis ou Kussai), que hoje é Meir.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

100 anos


Em Dezembro de 1912, em Tell el-Amarna, foi encontrado o busto de Nefertiti, na que terá sido a oficina oficial do escultor de Tutmés, durante escavações realizadas pela Sociedade Alemã do Oriente.



Rainha do Antigo Egipto (c. de 1383-1345 a.C),
e esposa principal de Amen-hotep IV, mais tarde Akhenaton.



Há dois anos estivemos frente a frente no Egyptian Museum, Neues Museum, em Berlim. Na única sala em que não nos é permitido fotografias, daí esta foto de recurso...