sábado, 31 de dezembro de 2011

Vem aí o Ano Novo…



No Antigo Egito o ano iniciava-se a 19 de Julho com a estação de Akhet, que  se seguia aos 5 dias festivos epagómenos que finalizavam o ano anterior para acerto do calendário e eram dedicados a 5 deuses conforme abordei recentemente noutro post. 



O início do ano coincidia com o reaparecimento da estrela Sirius da constelação do Grande Cão após 70 dias abaixo do horizonte. A importância desse reaparecimento era tremendo para os egípcios uma vez que nessa altura do ano se iniciavam as cheias do Nilo que eram fundamentais para a renovação do ciclo agrícola.

Aproveito assim para desejar a todos os nossos amigos um Feliz Ano Novo. 

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

O festival Heb-Sed


Em tempo de festividades natalícias vou chamar a atenção para uma festa muito especial a que os faraós desde o início dos tempos históricos dedicavam bastante interesse.
Habitualmente era celebrado sempre que o reinado atingia os 30 anos, mas posteriormente era repetido por períodos bem mais curtos, geralmente cada 3 ou 4 anos.
Podíamos considerar uma festividade de jubileu que visava renovar a vitalidade real num reinado já bastante longo.
Nessas festividades o faraó fazia uma corrida simbólica com o boi Ápis à volta do seu templo funerário; lançava flechas segundo os 4 pontos cardeais, representando o seu poder sobre todo o país e mesmo todo o Mundo; fazia a cerimónia do levantamento do pilar Djed e entre outras actividades participava em procissões de visita a vários templos recebendo homenagens dos seus súbditos mais destacados.


Imagino que as populações que raramente viam o faraó, ficariam impressionadas com toda essa pompa. Afinal estavam na presença de um deus na Terra, e que era o responsável pela ordem e desenvolvimento de todo o Egito.

Amarna Virtual Museum


Vídeo e demais conteúdos roubados, descaradamente, ao grupo do Facebook,
«Egiptologia em Portugal». A foto, repetida, essa é minha.

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Arquitetura típica dos templos no Antigo Egito



A esmagadora maioria dos templos do Antigo Egito, a partir do Império Novo, tinham uma estrutura muito típica.
Esses templos eram sempre construídos de dentro para fora, pelo que o santuário era a primeira estrutura a ser edificada, ficando portanto na zona mais interior.
Quando o templo estava completo, ele estendia-se axialmente e era frequente ter uma avenida, muitas vezes ladeada de esfinges,  que dava acesso a duas grandes estruturas trapezoidais unidas: eram os pilones, com um grande portal para a entrada do templo. Estes estavam decorados com diversos motivos mas o mais comum era o faraó espancando os seus inimigos e as oferendas deste ao deus ao qual o templo era devotado.
Ao passarmos esse portal deparamo-nos com o pátio hipostilo, geralmente bem iluminado pela luz natural onde geralmente era aceite o acesso do público.
Seguidamente encontramo-nos na sala hipostila que tinha uma cobertura apoiada em inúmeras e robustas colunas como uma autêntica floresta de pedra. Seria destinada apenas aos sacerdotes do templo.
A partir deste ponto o acesso era mais restrito, começando a baixar em altura tendo de ser iluminado artificialmente. Era a sala da barca e o santuário propriamente dito, onde se encontrava a estátua da divindade.


Todo o templo era normalmente rodeado por altos muros, que davam uma proteção eficaz e o isolavam das áreas limítrofes.
O interior era profusamente decorado onde se dava todo o destaque a um ou mais faraós que o tinham erigido e ao deus que ali era cultuado.
Um dos templos melhor preservado onde ainda se pode apreciar todos estas estruturas arquitetónicas é o templo de Edfu, a sul de Tebas, e que foi já construído no período Ptolemaico.
Outros templos eram ainda mais complexos como o templo de Karnak, com uma sucessão de pilones e pátios hipostilos à medida que faraós mais recentes os iam acrescentando. 
Também destaco o peculiar templo duplo de Kom-Ombo em que tudo está duplicado, estando o lado esquerdo dedicado a Horus Horuer e o lado direito ao deus Sobek.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Um curioso estilo artístico: a estátua-cubo

Após os tormentos do Primeiro Período Intermediário, as artes florescem de novo com a reunificação do Egito sob a XI e depois a XII dinastia, durante a época esplendorosa do Império Médio. Surgem ou ressurgem antigos e novos estilos artísticos.

A estatuária tem então a particularidade de desenvolver um curioso estilo de representação o qual será muito em voga nos séculos seguintes: a estátua-cubo. Esta bizarra forma exibe a figura da pessoa em forma de cubo, com apenas a cabeça em destaque e por vezes delineando os braços e mãos. O modelo cúbico permitiu que inúmeras sobrevivessem até aos nossos dias.

A imagem acima representa um tal de Hetep e data da XII dinastia. Presumo que se trate de um funcionário, mas se quiserem ter mais informação, deixo a quem sabe a leitura dos hieróglifos presentes na estátua!

Para os que pretendam conhecer um pouco mais sobre a arte do Império Médio, podem consultar o site http://umolharsobreomundodasartes.blogspot.com/2009/03/medio-imperio-apos-o-periodo-de.html

sábado, 24 de dezembro de 2011

A mãe de Ramsés II

A estátua acima visualizada encontra-se no Vaticano e representa Tuia, mãe do grande Ramsés II e esposa de Seti I. Sabe-se pouco da sua vida. Ao que parece terá sido filha de um militar, comandante de carros de guerra. Talvez durante o reinado de Horemheb, último faraó da XVIII dinastia, a jovem Tuia tenha casado com Seti, filho do general Paramessu, importante colaborador militar e vizir desse faraó e depois seu sucessor como Ramsés I, fundador da XIX dinastia.

Tuia tem, pelo menos, três filhos documentados, entre os quais Ramsés II e Tia. Uma rainha de Ramsés II, chamada Henutmiré, surge na estátua aqui apresentada, pelo que se discute se essa dama seria filha de Tuia e consequentemente irmã de Ramsés II ou então filha deste último.

Com Seti I no trono, Tuia tornou-se sua consorte real, mas não terá sido uma figura destacada durante o próspero e dinâmico reinado do seu esposo.

Na qualidade de mãe de Ramsés II, o caso revela-se bem diferente, pois existem vestígios a confirmar diversas homenagens do jovem rei à sua progenitora, tais como fragmentos numa capela do Ramesseum, o templo mortuário do monarca; uma estátua encontrada em Tanis, oriunda de Pi-Ramsés; inscrições em Abido; e outras referências à sua pessoa em Abu-Simbel e Deir-el-Medina. Ainda existe uma cabeça de um vaso canópico em exposição no Museu de Lucsor, que representa Tuia. Em todos os casos, Tuia passou a usar como prefixo, o nome «Mut» o qual tem o significado de «mãe» e assim começou a chamar-se Mut-Tuia.

A rainha viúva teve uma vida privilegiada durante as primeiras duas décadas do reinado de Ramsés II, possivelmente como conselheira influente juntamente com a nora, a bela Nefertari. Pensa-se que Tuia terá tido algum destaque na correspondência diplomática com o Reino Hitita visando a paz com este último depois de décadas de guerra, a qual efectivamente se concretizou no 21º ano do reinado de Ramsés com o famoso tratado egípcio-hitita.

Seja como for ela não viveu muito mais para apreciar em pleno os resultados desse tratado. Nada mais dela se sabe após o 22º ano do reinado, pelo que se deduz que terá morrido nessa altura. Veio a ser sepultada no túmulo QV80, localizado no Vale das Rainhas.

P.S. Para informações sobre a rainha Tuia, consultem o site http://en.wikipedia.org/wiki/Main_Page e pesquisem «Tuya (queen)».

Presumo que o Dicionário do Antigo Egito, do nosso estimado amigo, o professor Luís Manuel de Araújo terá um artigo a respeito desta rainha. Como não o tenho, desafio os que o possuem a pesquisar e a verificar eventuais omissões ou erros que eu possa inadvertidamente ter feito nesta postagem.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Quem conhece esta divindade?

Esta questão que aqui deixo é para os nossos amigos seguidores externos do nosso blog


Qual o nome desta divindade e em que período ela aparece no Egito?

Refinamento e beleza das artes decorativas

Esta lindíssima imagem pertence a uma série de 11 pinturas murais do túmulo de Nebamon, o qual, segundo as suas próprias palavras foi «escriba que contava os cereais no celeiro das ofertas aos deuses». O seu nome quer dizer «O meu senhor é Amon», portanto Nebamon terá sido um alto funcionário ao serviço da máquina administrativa do clero de Amon.

Nebamon terá vivido algures entre 1400 e 1350 a.C. e as pinturas murais foram adquiridas pelo Museu Britânico em 1821 a partir de um coleccionador particular. Todavia, desconhece-se, para já, a localização do seu túmulo. Em 2009, o Museu Britânico organizou uma galeria para a exposição dos fragmentos murais restaurados ao seu antigo esplendor.

Para os meus estimados colegas, forneço dois links a partir dos quais podem observar a galeria mencionada:

www.britishmuseum.org/explore/galleries/ancient_egypt/room_61_tomb-chapel_nebamun.aspx

OU

http://umolharsobreomundodasartes.blogspot.com/2009/03/arte-da-antiguidade-arte-egipcia.html


P.S. O segundo link fornece uma visão bastante alargada sobre a Arte na Antiguidade, com grande relevo para a Arte do Antigo Egito, pelo que recomendo a todos os interessados que o visitem.

sábado, 17 de dezembro de 2011

O primeiro poema de amor da História?

"A PRINCESA RICA EM ENCANTOS,
SENHORA DO AFETO, MEIGA DE AMOR, SENHORA DAS DUAS TERRAS.
POETISA DE LINDO SEMBLANTE
A MAIOR NO HARÉM DO SENHOR DO PALÁCIO.
TUDO QUE DIZEIS SERÁ FEITO PARA VÓS.
TODAS AS COISAS BONITAS DE ACORDO COM VOSSO DESEJO.
TODAS AS VOSSAS PALAVRAS TRAZEM ALEGRIA À FACE.
POR ISSO OS HOMENS ADORAM OUVIR TUA VOZ."

(Poema de amor de Ramsés II Nefertari)

Não resisti! Achei este poema sublime, puro e belo, a melhor demonstração de amor de um homem pela sua amada. Quem diria que o grande Ramsés II, habituados que nós estamos a vê-lo no filme Os Dez Mandamentos através da brilhante interpretação de Yul Brynner, fosse capaz de tanto romantismo?

Terá sido este o primeiro poema de amor da História? Não sei, talvez ninguém saiba. Todavia é um dos mais emotivos, fortes e inspirados que alguma vez se escreveu!

Quem foi Setnakht?

A estela acima exibida refere-se a um relativamente pouco conhecido faraó do Império Novo.
É o fundador da XX dinastia: Setnakht, ou seja «Vitorioso é Set». O seu curto governo sucedeu ao da rainha Tauseret, última representante da XIX dinastia, c. de 1186 a.C..

O nome deste monarca aparenta indicar a sua origem como sendo da zona do Delta Oriental, onde o deus Set era particularmente adorado. Um pouco à semelhança dos primeiros soberanos da dinastia antecedente, o novo rei do Alto e Baixo Egito poderá ter sido um militar.

O Grande Papiro Harris destaca Setnakht essencialmente como o estabilizador e restaurador do Duplo País, após os tumultos sociais e políticos no fim da XIX dinastia. As circunstâncias da sua ascensão são obscuras e o seu reinado é igualmente controverso a nível de duração - possivelmente não mais de dois anos - mas recentemente veio a descobrir-se a estela acima visualizada, da autoria de um sumo-sacerdote de Amon, Bakenkhonsu, a qual é datada do 4º ano do reinado de Setnakht, pelo que é possível que ele tenha efetivamente reinado quatro anos. Sua esposa veio a ser Tié-merenisit, mãe do último grande faraó do Império Novo, o valoroso Ramsés III.

O breve reinado de Setnakht foi demasiado curto para ele produzir grandes feitos arquitetónicos ou bélicos. Entre as suas escassas realizações artísticas, estarão algumas obras que mandou fazer ao templo de Amon em Karnak, concluídas depois por Ramsés III e outras menores em Pi-Ramsés, Elefantina, Pi-Atum e Sinai(?), para além da construção do túmulo KV11, posteriormente abandonado ao invadirem o túmulo de um faraó anterior, tendo depois usurpado o túmulo KV14, pertença da rainha Tauseret, para sua morada final.

Acima de tudo, Setnakht é conhecido pela breve estabilização do Egito após anos de conflitos internos e por ter legado ao reino das Duas Terras o seu filho Ramsés III, um rei que soube preservar, pelo menos durante mais algumas décadas, o poder faraónico, a integridade territorial e o prestígio externo do seu país.

Dicionário do Antigo Egipto

Agora que já temos muitos fiéis seguidores  do "Faraó e Companhia", acho útil dar destaque com todo o mérito a um livro de apoio que tem sido fundamental como referência para a postagem de uma boa  parte dos meus temas:

"Dicionário do Antigo Egipto", sob a direção do meu grande amigo ( e dos restantes escribas) Professor Luís Manuel Araújo.

Tem a vantagem de ser uma obra com o contributo de destacados especialistas portugueses e de grande qualidade e rigor.
Na minha opinião, quem goste deste tema e só possa ter um livro de egiptologia, este deverá ser a sua escolha.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Identifiquem a cena!



Sem quaisquer pistas ou indicações, eu proponho aos meus amigos escribas que identifiquem a cena e os seus protagonistas, pela qual receberão moscas de ouro ou cones de perfumes no caso dos vencedores - sim, vencedores, para ser simpático - e chibatadas para os vencidos!

Boa sorte!

Aida de Verdi


Ismail Paxá, soberano do Egito, convidou Giuseppe Verdi, para que compusesse um hino para os festejos da inauguração do canal de Suez (17/11/1869). De facto, motivado por uma série de atrasos, a ópera só foi estreada em 24/12/1871, na Casa da Ópera do Cairo.
Muitas coreografias foram realizadas desde então, mas a maioria pode ser classificada de espetacular...
Podemos apreciar aqui uma delas

Nota importante: Para ser visto em ecrã total, há que clicar na tecla "youtube" e escolher "ecrã inteiro".

Deixo aqui o "link" do resumo do "libretto" e mais informações acessórias bastante interessantes.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

De quem é esta cadeira?

Aos meus colegas escribas, apresento estes simples e modestos desafios: que me identifiquem a quem pertenceu esta espécie de liteira e resumam a sua vida. O vencedor ou vencedora terá direito a um cone de perfume ou, se quiser, a uma "mosca de ouro"!

Direi apenas que pertence a uma pessoa de elevado estatuto social e que o exemplar observado é uma cópia do original presentemente no Museu do Cairo.

Como única pista efectiva, apresento-vos o nome em hieróglifos:




Boa sorte!

Mistério q.b., como convém...


Mais uma tentativa de revelar os segredos da grande pirâmide (Khufu). Uma equipa de cientistas, equipados com meios de alta tecnologia, vão tentar descobrir o que está para lá das "portas". Estamos perante uma das, na minha modesta opinião, duas condições essenciais para o sucesso da egiptomania, o mistério e a estética.



Ver em http://www.jornalciencia.com/index.php?option=com_content&view=article&id=1194:a-grande-piramide-de-gize-tera-suas-portas-secretas-abertas&catid=137:diversos&Itemid=520






terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Propaganda e legitimação

A beleza feminina da estátua da rainha-faraó Maatkaré Hatchepsut só é equiparada ao seu astuto uso da propaganda político-religiosa com o propósito de se legitimar como rei numa monarquia teocrática predominantemente masculina. Face a um trono já ocupado por um príncipe varão - Tutmés III, sobrinho e enteado - a rainha regente, viúva de Tutmés II, fez extensa utilização dos meios propagandísticos à sua disposição talvez mais do que qualquer soberano (com a excepção de Ramsés II, bem entendido!)

Contando com o apoio do clero de Amon, a rainha publicitou largamente o mito da teogamia, proclamando-se «filha carnal de Amon» e dele recebendo a legitimidade para reinar sobre todo o Egito como proclama o curto texto seguinte:

"Aproximou-se o rei dos deuses, Amon-Ré, do seu templo, dizendo: «Bem-vinda minha doce filha, minha favorita, o rei do Alto e Baixo Egito, Maatkaré Hatchepsut. Tu serás faraó, tomando posse das Duas Terras.»"

Ela também se legitimou a partir da outra fonte de poder além do divino: a partir da sua própria linhagem. Conforme apresenta o texto do seu templo em Deir-el-Bahari, a rainha recebe o trono por ordens directas de seu pai terreno, Tutmés I:

"Esta minha filha - Khnemetamon Hatchepsut - que ela viva! - nomeei como minha sucessora no meu trono...ela irá dirigir o povo de qualquer esfera do palácio; na verdade é ela que vos irá liderar."

Tanto mais ela insistiu na sua legitimidade pois tinha consciência da sua fragilidade política como mulher num universo político extremamente conservador. Daí que a propaganda político-religiosa de Hatchepsut tenha sido usada em tão grande escala. Todavia, não há dúvida que foi bem sucedida no objectivo proposto, conforme é demonstrado pelas grandes realizações de um próspero reinado de vinte anos.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Guebel Barkal- Residência do deus Amon

Guebel Barkal é uma colina de aproximadamente 100 metros de altura, situada no atual Sudão, nas proximidades da localidade de Karima, e nas redondezas de uma importante curva do Nilo onde se encontra a 4ª catarata. Situa-se a uma distância de 348 km a norte da atual capital, Cartum, e a 1300 km a sul da cidade do Cairo (18º 32’ N e 31º 49’ E).

Esta região pertencia à Núbia e em vários períodos foi dominada pelo Egito, por esta região ser rica em ouro, em plantas e animais exóticos e também ser detentora de uma população que foi, algumas vezes, escravizada e outras integrada em tarefas específicas como por exemplo as militares.

Inserida isoladamente numa imensa planície, destaca-se esta colina que possui uma forma muito curiosa, com um fino e alto pináculo na vertente Sul.

Quando os antigos egípcios aí chegaram imediatamente relacionaram esse apêndice lítico com um enorme “Uraeus” a serpente sagrada que protege os faraós, e a própria colina como a casa do deus Amon.

O faraó Tutmés III (XVIII dinastia), conhecido como sendo o “Napoleão do Antigo Egito”, por volta de 1450 a.C. estendeu o controlo egípcio até esta região, ficando aqui a fronteira meridional.

Neste local foi feita a construção de um grande templo dedicado ao deus Amon, que foi posteriormente ampliado durante a XXV dinastia (Núbia). Nesta área encontram-se as ruínas de pelo menos de 13 templos e 3 palácios.

Pelo seu valor arqueológico foi considerado património mundial pela Unesco, juntamente com as vizinhas localidades de Meroé e de Napata.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Nos 100 anos de Mahfouz


«Eis as pirâmides que ao longe se perfilam minúsculas e aos pés das quais, em breve, estarás como alguma formiga junto do tronco de uma árvore majestosa.
- Vamos visitar o túmulo do nosso primeiro antepassado!
- Para ler a Al-Fatiha em caracteres hieroglíficos - acrescentou Kamal, rindo.
- Uma nação que só deixou aos seus descendentes túmulos e cadáveres! - replicou Hussein, gracejando. Depois, apontando para as pirâmides: - Olha que trabalho deitado ao ar...
- Isto é que é a eternidade!... - exclamou Kamal com arrebatamento»



In «O Palácio do Desejo»

sábado, 10 de dezembro de 2011

Um ano de 360+5 dias


No Antigo Egito o ano estava dividido em 12 meses de 30 dias, mas cedo verificaram que necessitavam de mais 5 dias para acertarem o calendário. Os antigos egípcios dividiram o ano em 365 dias desde uma fase muito precoce do seu percurso histórico. Desenvolveram, muito cedo, os conhecimentos astronómicos que permitiram esse grau de precisão. É de facto extraordinário que uma civilização o tenha feito já há tantos milénios! O interessante é a explicação mitológica para a justificação desses 5 dias, chamados epagómenos...

Nut (deusa do céu) enamorou-se do seu irmão Geb (deus da terra) à revelia do pai Ré que, ao descobrir, pediu a Chu (deus do ar) para que este separasse o casal de forma a que Nut não pudesse procriar nos 360 dias do ano. Nut estava desgostosa mas pediu ao deus Tot que a ajudasse. Tot, com pena da situação, decidiu agir. Desafiou a Lua para um jogo e com a sua grande sabedoria: ganhou. Conseguiu obter assim uma parte da luz lunar (mais precisamente 72 avos) o suficiente para conseguir 5 dias suplementares que se juntam aos 360 dias comuns e, como consequência da perda da luminosidade lunar, apareceram as fases da Lua.
Mas a história ainda não acabou...
Nestes 5 dias aconteceram coisas extraordinárias, mas que no caso de deuses e deusas é perfeitamente normal. Em cada um desses dias Nut gerou um filho de Geb. Nasceram pela seguinte ordem: Osíris, Horuer, Set, Ísis e Néftis.
Estes dias eram especiais e seriam dedicados aos deuses em causa. Seriam certamente muito apreciados após um ano de trabalho.


sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Esfinge acéfala de Apriés


O nosso blogue tem sido enriquecido com algumas «provocações» na forma de perguntas que não deixam de ter um interpelante carácter pedagógico, por isso aqui vai mais uma, para entreter os bloguistas.

Esta estátua esfíngica de um faraó da XXVI dinastia, conhecido pelo nome grego de Apriés, encontra-se hoje em Alexandria, à entrada das catacumbas romanas de Kom al-Chugafa, cujo acesso é difícil.

Pois bem, o que diz a inscrição hieroglífica gravada na base da estátua?

Descubram o nome desta divindade!


Estamos habituados a ver documentários da National Geographic sobre todo o tipo de animais. Através de séculos de observação, os antigos egípcios foram os primeiros a entender o comportamento animal e a associá-lo a divindades em particular: temos o hipopótamo, animal do deus Seth, o mais perigoso mamífero herbívoro africano, responsável por virar barcos e arruinar colheitas (daí a associação ao mal); temos o crocodilo, animal do deus Sobek associado à ferocidade e ao perigo nas águas do Nilo; temos o íbis e o babuíno, associados a Tot, deus da lua e da escrita devido à forma do bico de um que parece um crescente lunar e à inteligência e hábitos noturnos do segundo; temos o falcão, cuja capacidade de voar rápido e alto o fez ser associado a Hórus, deus do Sol e da lua.

A figura acima, actualmente presente no Museu de Brooklyn, em Nova Iorque, é o busto de uma divindade associada à força e à violência característica dos leões - particularmente leoas - que em séculos anteriores circundavam nas zonas desérticas acima do Vale do Nilo.

Quem é esta divindade?

Para tirar mais partido do nosso "Blog"

Aqui o "Faraó e Companhia" tem a suspeita que uma parte dos nossos amigos visitantes deste nosso espaço, se esquecem muitas vezes de visitar os comentários que estão anexos a cada tema que temos postado. Normalmente aí é acrescentada mais informação, se respondem a perguntas deixadas em aberto ou até se levantam novas questões.
Habituem-se a vê-los regularmente e afoitem-se a também colocar os vossos. 
Se os vossos comentários não ficarem logo visíveis,  não desesperem. Aguardem que um dos nossos moderadores o aceite  para ficar disponível no "blog". É apenas uma questão de segurança.


Levando a ideia à prática...
O que é o objeto que vos deixo na imagem aqui presente?  Ele está no "Metropolitan Museum of Art".

Os comentários agradecem-se.
As falhas, como sempre, são presenteadas com chibatadas e os acertos com cones de perfume, mas descansem que ambos são apenas virtuais.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Humm, que rico banquete!

Se calhar o regime alimentar dos antigos egípcios era mais saudável em certos aspectos do que o atual: como podem ver, há um pouco de tudo, desde frutas a pão, de peixe a aves. Eles tinham uma alimentação muito completa. Havia uma considerável porção de vegetais e legumes, o que estaria de acordo com as recomendações dos nutricionistas modernos para um regime alimentar salutar! Sem contar com as bebidas, sobretudo cerveja, a qual era bastante nutritiva e menos alcoólica do que as presentes e, se calhar, bem melhor para consumir.

Portanto, talvez devessemos seguir a antiga alimentação egípcia nos seus termos gerais, reduzindo, deste modo, os riscos de obesidade, doenças cardíaco-vasculares e outras tantas que hoje assolam as sociedades ocidentais.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Quem foi ela? Decifrem o nome!


foi uma importante "Grande Esposa Real" de um dos mais famosos faraós do Império Novo. A sua relevância é atestada por inúmeras inscrições onde ela aparece ao lado do esposo e sobre o qual exerce significativa influência, a qual se estende depois para o reinado do filho, tendo morrido algures no 12º ano do reinado deste último.


Agora, quem quiser, procure saber quem foi esta rainha poderosa. Como podem ver, não dou muitas pistas, a não ser a mais óbvia e perfeitamente decifrável: o seu nome.

Boa sorte!


segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Paraíso celestial!


Em Sheikh Abd el-Qurna, na margem oposta a Luxor, existe uma necrópole que é pouco conhecida do público em geral, fora dos círculos académicos: o Vale dos Nobres. Aí diversos poderosos cortesãos e funcionários régios vieram a ser sepultados, a respeitável distância dos seus divinos soberanos.

Aqui é apresentada uma pequena amostra da espetacular beleza artística do túmulo de Menna, escriba "dos campos do Senhor das Duas Terras" e "supervisor do campo de Amon", que viveu c. de 1400 a.C.. A decoração exalta a vida além da morte como uma mera continuação dos prazeres e atividades do mundo terreno, presidido pela divindade do mundo dos mortos - Osíris. Existem cenas de caça, de pesca e das atividades agrícolas quotidianas. Menna é rodeado da mulher, dos filhos, faz oferendas aos deuses, viaja pelo mundo subterrâneo, o seu coração é pesado na balança da justiça.

O túmulo atesta bem como Menna deveria ser substancialmente abastado, clássico exemplo do bem-estar e conforto dos privilegiados durante a XVIII dinastia, nos reinados de Tutmés IV e/ou Amenhotep III, época de fabulosa prosperidade, da qual teve o privilégio de usufruir.

Aos peregrinos da próxima Páscoa, a visita aos túmulos no Vale dos Nobres é um ponto no itinerário que vale a pena visitar!

Páscoa no Egito


Está já confirmada a próxima visita de estudo que o Instituto Oriental da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa vai promover ao Egito, desta vez em parceria com o Centro de História da mesma Universidade, e de novo numa organização da Tui Viagens.

A partida será no dia 29 de Março, estando o regresso previsto para o dia 10 de Abril de 2012, com a novidade de os dois últimos dias serem passados em Hurghada, nas margens do mar Vermelho, para um justo repouso dos viajantes e um retemperador Heb-sed.

O programa da viagem está à disposição no site do Centro de História e no site da Tui Viagens, sendo os guias da visita de estudo os mesmos dos anos anteriores: o egiptólogo do Instituto Oriental que assina este texto, a escriba Teresa Neves da Tui e o Mustafa, ambos agitando patrioticamente as nossas bandeiras na terra dos faraós.

domingo, 4 de dezembro de 2011

Donde vem o choro...?

Os colossos de Memnon



As duas enormes estátuas, que se podem ver na necrópole da antiga cidade de Tebas, representam Amen-hotep III (XVIII dinastia) sentado no trono. Mãos pousadas sobre os joelhos. Em cada lado das pernas está representada a mãe, Mutemuia, e a esposa, a rainha Tié. Há também uma outra particularidade bastante interessante: nos dois lados do trono figuram a representação do sema-taui - símbolo que aludia à união entre o Alto e o Baixo Egito, sendo possível ver o deus Hapi a realizar a união das duas plantas heráldicas: papiro e lótus.

São duas estátuas gingantescas. Veem-se ao longe e perto delas sentimo-nos “mínimos” em toda a aceção da palavra.

Estátuas imponentes!

Conta a lenda que…

Os colossos adquiriram fama desde a antiguidade pela particularidade de emitirem um som ao nascer do sol. O som assemelhava-se a um choro. Mas que choro era este? Foram os gregos que detetaram este fenómeno e deram lugar à lenda: dizia-se que este colosso era a imagem do mítico guerreiro Memnon, filho de Eos e que tinha sido morto, na guerra de Tróia num confronto com Aquiles. Tornou-se herói ganhando a imortalidade de Zeus, pois chamava pela sua mãe todas as manhãs ao nascer do sol.

Não há dúvida que esta lenda é bonita e toca na sensibilidade de todos nós.

Mas… como qualquer lenda…

Segundo Estrabão, no ano 27 a.C. houve um sismo que originou uma fenda no colosso norte. E o facto de se ouvir um “choro” era em consequência da acumulação de humidade durante a noite e que se evaporava com o nascer do sol. Nesta altura ouvia-se um som que se assemelhava a uma cítara.

Bem, assim sendo já sabemos donde vem / vinha o choro.


sábado, 3 de dezembro de 2011

Momento de Poesia...


Ó benevolente Ísis


que protegeu o seu irmão Osíris,
que procurou por ele incansavelmente,
que atravessou o país enlutada,
e nunca descansou antes de tê-lo encontrado.
Ela, que lhe proporcionou sombra com suas asas
e lhe deu ar com suas penas,
que se alegrou e levou o seu irmão para casa.
Ela, que reviveu o que, para o deseperançado, estava morto,
que recebeu a sua semente e concebeu um herdeiro,
e que o alimentou na solidão,
enquanto ninguém sabia quem era.

Imhotep uma personalidade incontornável


















Foi a segunda personalidade do reino logo a seguir ao próprio faraó, tendo sido o seu principal conselheiro e provavelmente amigo.
Foram-lhe atribuídas importantes funções, das quais se destacam as seguintes:

- Vizir (função equiparada à de um 1º ministro) - o que demonstra a confiança que o faraó depositava nele;

- Sumo sacerdote de Heliópolis: Era o chefe do clero do deus Ré, cujo culto estava em ascensão.

- Escriba. Verificamos que a maioria das suas representações, na estatuária, er

am como escriba, atendendo à sua postura típica e aos apetrechos dessa profissão.

- Arquiteto real. Foi o primeiro arquiteto conhecido da História da Humanidade, sendo responsável pela conceção e execução do complexo funerário do faraó em Sakara onde se inclui a "pirâmide escalonada" também conhecida por "pirâmide de degraus". Isto correspondeu a uma autêntica revolução arquitetónica ao sobrepor seis mastabas com tamanhos progressivamente menores. Essa construção serviria de base a todas as pirâmides construídas a partir dessa altura, tendo sido o primeiro passo que permitiu a evolução destas estruturas líticas.

- Médico. Constando que procedia a curas “milagrosas” e era conhecido por extrair medicamentos das plantas. Infelizmente os seus escritos perderam-se na totalidade e apenas sabemos por relatos indiretos que eles terão realmente existido. A sua fama perdurou por vários milénios até à Época Greco-Romano, tendo sido inclusivamente deíficado durante a Época Baixa, onde se reproduziram aos milhares, pequenas estatuetas de bronze. Foi considerado filho de Ptah e de uma senhora de nome Khereduankh, sendo considerado deus da sapiência, da escrita e da medicina. Ficou associado aos cultos dos deuses Ptah e Tot. Mais tarde, os Gregos identificaram-no com Asclépio, o deus grego da medicina.



Em Sakara foi criado um centro (o Asclépion) onde se faziam peregrinações de doentes que buscavam a cura para as suas maleitas. Era habitual esta gente deixar como oferendas votivas, não só, íbis mumificados mas também pequenos modelos de barro da zona do corpo para a qual necessitavam cura.