quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Teticheri ou o poder das mulheres no Império Novo - II Parte

Teticheri viveu cerca de 1594-1540 a.C. e é considerada a matriarca da XVIII dinastia, devido ao seu aparentemente importante papel dinástico e político na fundação do Império Novo (ao lado, a imagem da rainha).

De origem plebeia, casou com Taá I, o Antigo, rei da XVII dinastia que pode lhe ter conferido significativos poderes como "Grande Esposa Real". Seria mãe da notável rainha Ahhotep I (já referida anteriormente), de Taá II, o Bravo e possivelmente avó de Kamés e seguramente de Ahmés I, célebre fundador do Império Novo.


Ela estabeleceu (ou restabeleceu) a tradição de um poderoso matriarcado no seio do faraonato na transição entre o 2ª Período Intermediário e o Império Novo, assegurando a sobrevivência do poder dinástico perante uma sucessão de faraós mortos de forma prematura. A presença desse poder feminino persistiria muito tempo após a morte da rainha, com destaque para mulheres como Hatchepsut, Tye e Nefertiti.

De resto, Teticheri sobreviveu a três reinados, durante os quais é possível que tenha desempenhado um papel político relevante na corte de Tebas, como conselheira e talvez mesmo co-regente com a filha, Ahhotep ao longo da guerra de libertação contra os Hicsos.

Teticheri desapareceu c. de 1540 a.C.. Existem escassas evidências da sua vida, a não ser a estela monumental da sua arruinada estrutura funerária, erguida no complexo fúnebre de Ahmés I em Abido. Presentemente no Museu do Cairo, a estela atesta - de acordo com as palavras do próprio Ahmés - a alta consideração e apreço do jovem rei pela autoridade moral e dinástica da avó, o que evidencia a duradoura influência desta na famosa dinastia que fundou.

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Parabéns ao Faraó e companhia... hip...hip...hurra

É verdade meus amigos... no dia 19 de novembro de 2011 fizemos precisamente 1 ano


Está pois na altura de fazer um pequeno balanço da nossa atividade para os nossos simpáticos seguidores.

Como grupo de amadores que apreciam genuinamente a egiptologia, mas com formação em outras áreas do conhecimento, achamos que temos feito, sem presunção, um bom trabalho na divulgação deste tema para nós tão caro.
Por isso o nosso Ka está orgulhoso e satisfeito.

Neste 1º ano a nossa atividade foi bastante interessante:

-Temos atualmente 29 fiéis seguidores;
-Produzimos 293 temas espalhados por uma multiplicidade de assuntos;
-Tivemos mais de 30500 acessos espalhados pelos quatro cantos do mundo (destacando-se Portugal com 18131; Brasil com 9569; Estados Unidos com 386; Espanha com 192; Alemanha com 180 e Chile com 75).

O Faraó e Companhia quer deixar um agradecimento muito especial ao Professor Luís Manuel Araújo, nosso amigo e que, com a sua paciência e grande sabedoria, nos tem corrigido e dado indicações para melhorar a qualidade dos "posts".

Ahhotep I ou o poder das mulheres no Império Novo


Ahhotep I, rainha da 18ª dinastia, foi a mãe de Ahmés I, fundador do Império Novo e uma das mais influentes mulheres reais no Antigo Egito nos inícios da fabulosa linhagem faraónica que conduziria o país à sua terceira grande época de esplendor.

Ahhotep I (ou seja "A lua está satisfeita") viveu por volta de 1560-1530 a.C.. Era filha de Taá I e da rainha Teticheri, (outra importante matriarca real e autêntica fundadora da linhagem dinástica com que começou o Império Novo).

Casou-se com Taá II, aparentemente seu irmão e dele presume-se que teve dez filhos. A dada altura, face à prematura morte do rei Kamés - aparentemente seu filho mais velho - Ahhotep assumiu a regência em nome do seu outro filho, o jovem Ahmés I, na altura menor de idade e num momento em que o Egito se debatia numa guerra sem quartel contra os Hicsos.


Numa estela erguida em Abido, onde se encontra um cenotáfio familiar, Ahmés I louva o heroísmo da sua mãe, atribuindo-lhe a responsabilidade de salvar o país, na qualidade de regente, ao pacificar o Alto Egipto, conquistar a confiança das tropas e salvaguardar a autoridade régia perante a ameaça de invasão e revolta.


O texto laudatório de Ahmés I é reforçado pelas descobertas no túmulo de Ahhotep I, em Dra Abu el Naga, no qual foram encontrados punhais e machados cerimoniais e as célebres "moscas de ouro", a mais alta condecoração militar da época, os quais podem indiciar que a rainha talvez tenha mesmo comandado forças militares, gesto invulgar para uma mulher na Antiguidade.

Presume-se que Ahhotep desapareceu algures no reinado do seu neto Amenhotep I ou no reinado de Tutmés I, provavelmente com mais de 90 anos de idade.

O seu túmulo foi descoberto em 1859.

É um testemunho da força e da importância das mulheres mesmo numa das épocas mais recuadas da História da Humanidade.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

As eleições no Egito são hoje!

Vamos torcer para que as eleições sejam livres e consigam apaziguar finalmente o país.
Se isso não suceder, vai-se gerar um clima de instabilidade crescente com risco na preservação de um património único para a humanidade.
A degradação económica e a perda de uma fonte de financiamento fundamental que é o turismo terão forçosamente de ser evitadas para bem dos egípcios e de toda a comunidade internacional.
Aqui fica um link da atualidade em torno destas eleições que decorrem na presente data.

Link para o jornal Sol ... Aqui>>> Jornal Sol

domingo, 27 de novembro de 2011

Hórus vitorioso

Hórus era um deus da mitologia egípcia com cabeça de falcão (ou o próprio falcão) que foi primeiramente cultuado na região do delta do Nilo, mas logo numa fase muito inicial do período histórico abrangeu todo o Egito, tendo-se identificado com os próprios faraós, que na sua titulatura passaram a ter o “nome de Hórus” e o “nome de Hórus de ouro”.

Ele personificava o céu pelo que a escolha do animal resultou perfeita.

Curiosamente, o seu olho direito representava o Sol e o esquerdo a Lua.

No fundo esta luta entre sobrinho (Hórus) e tio (o malvado Set) correspondia à eterna luta entre o bem e o mal.


Mais tarde foi incluído na tríade com os seus pais Osíris e Isis, tendo segundo a mitologia, sido concebido magicamente pela sua mãe, já que Osíris tinha sido morto e esquartejado em pedaços pelo seu irmão Set. Por fim Hórus vingou o pai, matando o rancoroso e ciumento Set após intensa luta.

No período ptolemaico foi construído um templo que foi dedicado a Hórus em Edfu no Alto Egito (inciado em 237 a.C. por Ptolemeu III Evérgeta) e que se encontra relativamente preservado.

sábado, 26 de novembro de 2011

O último faraó autóctone



No ano de 360 a.C. subiu ao trono o último faraó autóctone do Egito (XXX dinastia).
O seu nome em grego era Nectanebo (II) que correspondia ao prenome e nome egípcio Senedjemibré-setepeninihur ("o que é agradável ao coração de Ré" - "Escolhido por Onuris *") Nakhthorheb ("Horus é forte").
Durante o seu reinado procedeu à construção
de vários templos e restauros em outros .
Para fazer pagamentos aos mercenários gregos que o apoiavam cunhou moedas de ouro (como podemos ver neste nosso blog http://faraoecompanhia.blogspot.com/2011/01/moeda-no-antigo-egipto.html ), o que era novidade para os egípcios que até essa altura não cunhavam moeda para proceder às suas transações. No entanto em 343 a.C. o seu reinado terminou após a invasão persa por Artaxerxes III, tendo-se iniciado o 2º período persa que terminou pouco depois em 332 a.C. com a conquista do Egito por Alexandre o Grande, quase sem resistência por incapacidade dos persas em se defenderem perante a superioridade manifesta do exército de Alexandre.

* Onuris - deus da guerra e da caça nesta altura sincretizado com o deus Chu (deus do ar)

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Vindos da expedição a Punt



Egípcios "carregando" ramos de oliveira.
Núbios carregando arcos e flechas.
Em Deir el-Bahari, templo funerário de Hatchepsut.



Fotos: TMS (Museu Egípcio, Berlim)

A 1ª Greve conhecida

Atendendo a que hoje estamos em dia de Greve Geral (24/11), lembrei-me de postar este tema.

Foi durante a XX dinastia no ano 29 do reinado do faraó Ramsés III que foi documentado a primeira greve conhecida da história.
Eram tempos difíceis pois durante vários anos este faraó se encontrou em guerra essencialmente defensiva relativo a invasões feitas pelos líbios e pelos heterogéneos "Povos do mar". Isso contribuiu em parte para a crise económica que nessa altura se associou ao descalabro já habitual dos gastos públicos "faraónicos".
Nos trabalhos realizados no templo funerário, começou a haver atrasos nos pagamentos,
nomeadamente em artigos alimentares (trigo, cevada, pão e cerveja) bem como cosméticos. Isso gerou viva contestação que levou à paragem de todos os trabalhos.
Os trabalhadores com esta atitude conseguiram que os pagamentos fossem feitos e o trabalho foi retomado.

Consta que mesmo assim não receberam nesse ano o subsídio de Natal... nem nos seguintes...

O faraó Ramsés III esteve sempre metido em confusões... no final do seu reinado sofreu um atentado contra a sua vida executado por uma concubina do seu harém e com apoio de outros elementos do seu pessoal... mas isso é tema para outra comunicação.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Poliomielite no Antigo Egito


Encontra-se no Museu Ny Carlsberg Glyptotek em Copenhaga, uma pequena estela votiva da XVIII dinastia que representa o porteiro de um templo da região de Mênfis.
O curioso é a representação do funcionário/ sacerdote (?) de nome Roma, que apresenta uma deficiência física numa das pernas com as características típicas da poliomielite (atrofia muscular do membro inferior associado a pé equino) e que se apoia num longo bastão.
Na estela o porteiro está acompanhado pela sua esposa e o seu filho, fazendo uma oferenda à deusa Astarte da mitologia fenícia (Será que Roma tinha origem estrangeira?)

Stele of Roma the Doorkeeper, dedicated to the goddess Astarte, ca 1400-1365 BC

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Att. Pai Natal


Querido Pai Natal, sei que ainda falta muito tempo, e que o Gasparzinho está de olho em ti, mas será que podias pôr no teu saquinho deste Natal o DVD deste filme do Lubitsch, recentemente exibido pelo ARTE TV, transmitindo em directo desde o Neues Museum? Podes? Obrigado. Prometo ser um menino bonzinho durante 2012 e 2013.

sábado, 19 de novembro de 2011

Uma Surpresa "Angustiante"...


Para quem gosta de Egiptologia, procura sempre ver/descobrir vestígios relativos ao tema. Foi o que me aconteceu há muito pouco tempo numa ida a Varsóvia. Falaram-me de um tal obelisco no Lazienki Park. Lá fui bem cedo e com muito frio. Percorri o parque de ponta a ponta e... nada. Mas, curiosamente estava assinalado no mapa do dito parque. Mais me convenci da existência do "monumento". Voltei a percorrer de uma ponta à outra e... finalmente: "Está ali...!!!". Foi com uma certa excitação que lá cheguei, mas... foi "isto" que vi:


O "obelisco" não tinha sido construído com pedras trazidas de Assuão... nem o dito tinha vindo das terras distantes dos faraós... NÃO, nada disso: era feito em cartão ( ? ) plastificado, mas mostrado orgulhosamente.

Que desilusão!!!!

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

De facto, o deus Montu está (mesmo) satisfeito...

Quem reinava no Egito no ano de 2011 a.C.? (portanto, há apenas 4022 anos atrás…)

Embora haja alguma divergência de datas, tudo leva a crer que seria o faraó Mentuhotep II (Nebhepetré Mentuhotep) da XI dinastia, e iniciador de um importante período de poderio egípcio que foi o Império Médio, tornando-se novamente rei efetivo do Alto e Baixo Egito.

Foi conhecido pelas suas obras arquitetónicas das quais se destaca, entre outras, o seu grandioso complexo funerário em Deir-el-Bahari, atualmente bastante danificado e que quase 6 séculos mais tarde serviu de modelo ao templo da faraó Hatshepsut (1490-1468 a.C.) que foi erigido mesmo ao seu lado.

No seu tempo desencadeou várias incursões militares: logo no início, vencendo o último rei da X dinastia, Merikaré, conquistando Heracleópolis e posteriormente o Delta; mais tarde fazendo campanhas militares vitoriosas contra os Núbios, os Líbios e os Beduínos do Sinai.

Sem dúvida: foi um faraó muito poderoso e importante.

Deixo-vos a imagem da maqueta hipotética do templo. A pirâmide no topo é controversa...


terça-feira, 15 de novembro de 2011

Eis-me de volta a Sakara


Buscando o friso das cobras...


E o Ka de Netjerikhet Djoser no seu serdab.





Fotos: ARTE/Architectures

Hititas, os arqui-inimigos



Os hititas eram povos indo-europeus originários da Ásia e que se estabeleceram na região da Anatólia (atual Turquia).
Atingiram o apogeu por volta dos séculos XIV e XIII a.C. coincidindo com um período de expansão do Egito (Império Novo).
Eram povos guerreiros que criaram importantes avanços militares nomeadamente nos carros de guerra puxados a cavalo.

Ficou célebre a batalha de Kadech (localizada no norte da Síria, na margem do rio Orontes) entre as duas superpotências da altura, na época do reinado do grande faraó Ramsés II. Aparentemente o resultado foi um empate técnico, terminando com um pacto de não agressão.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011


Na minha lenta e entrecortada leitura do livro do nosso estimado professor Luís Araujo, "Os Grandes Faraós do Antigo Egipto", deparei-me com este rei, o ultimo da 4ª dinastia, Chepseskaf.
Contrariando a tendencia, anterior e posterior, este rei resolve mandar fazer um tumulo na forma de mastaba. Passando ao lado das questões antropológicas que envolvem a morte, não só no antigo Egipto, mas em todas as sociedades humanas, o que pode ter levado o rei a tomar esta opção?, questões economicas?, opção estética? Que dizem os meus amigos escribas?

O enigmático Chepseskaf


Chepseskaf ("o seu ka é nobre") foi o último faraó da IV dinastia (cerca de 2500 anos a, C,).
Foi filho de Menkauré que mandou construir a pirâmide mais pequena de Guiza (se não contarmos com as pequenas pirâmides das rainhas aí existentes).
Nesta altura a informação que nos

chega é relativamente escassa, faltando muitas peças do imenso puzzle.

Alguns factos curiosos subsistem permitindo algumas hipóteses explicativas:
Ao contrário dos faraós precedentes, não construiu uma pirâmide mas sim uma grande mastaba com uma forma atípica de um
sarcófago.
O local escolhido foi a região de Sakara, e não a região de Guiza onde os seus antepassados diretos construíram as suas pirâmides.
Igualmente estranho é o seu nome não incluir algum tipo de apoio a Ré como os outros faraós da mesma dinastia.
Aparentemente, parece que ele procurou um distanciamento relativo a Ré e uma eventual aproximação a Ptah, já que procedeu ao casamento
de sua filha com um sacerdote de Ptah de Mênfis.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Amanhã, no Cinema Nimas, às 18h



«O Conto do Camponês Eloquente». Na impossibilidade de eu estar presente, mandarei o meu ka.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Nascidos para trabalhar


Este pequeno grupo de estatuetas funerárias de faiança azul, conhecidos pela designação de chauabtis, faz parte da coleção de antiguidades egípcias do Museu Nacional de Arqueologia, lendo-se na pequena inscrição hieroglífica frontal o nome do seu proprietário: Nesipaheran.

As três figurinhas do meio exibem nas mãos enxadas ou alviões com os quais irão trabalhar nos úberes campos do Além em lugar do defunto, sendo ladeadas à direita e à esquerda por capatazes munidos de chicotes para que a ordem e a disciplina deste mundo se mantenham no outro.

A ideia de publicar estas simpáticas personagens, que a magia irá animar no outro mundo para que lá possam trabalhar com afinco, é anunciar que elas constarão na contracapa dos volumes das Actas do IV Congresso Ibérico de Egiptologia que estão agora a ser preparadas.

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Maneton e as suas XXX dinastias

Maneton viveu no século III a.C.

Ele foi um sacerdote da era ptolomaica durante os reinados de Ptolomeu I, Sóter e de Ptolomeu II, Filadelfo.

Escreveu um documento denominado Aegypiaca em três volumes, em que relatava a sua versão da história do Egito, com o agrupamento dos faraós, de Menés, até Artaxerxes III, em XXX dinastias. Infelizmente esse material perdeu-se, tendo subsistido relatos posteriores de outros historiadores em que a obra foi em parte transcrita.

Hoje sabemos que para lá do seu valor documental inegavelmente importante tinha algumas imprecisões com divisões dinásticas nalguns casos um pouco forçadas.

Em virtude de se terem descoberto reis anteriores à primeira dinastia e que não constavam na lista de Maneton, foi necessária a criação de uma dinastia anterior a que se denominou, Dinastia 0.

Quanto às outras XXX dinastias ainda hoje são consideradas...