segunda-feira, 18 de junho de 2012

Um servidor de Akhenaton


     Aperel é o nome de um alto funcionário régio nos reinados de Amenhotep III e Akhenaton. Dispunha de títulos como "General dos Carros de Guerra", "Pai do Deus" e ainda Tjati, ou seja "Vizir", o equivalente a principal chefe da administração central. 

    O túmulo de Aperel foi descoberto em 1987 numa região de Sakara, dedicada ao culto da deusa Bastet. Os registos indicam que Aperel desempenhou as funções de "Vizir do Norte" ou seja era o maior responsável pela administração central no Norte do Egito.

   Também exerceu funções militares e certamente teria grande confiança junto do misterioso faraó «herético» Akhenaton, pois permaneceu no seu cargo durante o reinado deste, mesmo durante a confusa revolução religiosa monoteísta implementada pelo rei. Era, portanto, um seu servidor da mais alta estima.

     A sua esposa, Tauseret, aparenta ter sido uma destacada senhora na corte de Akhenaton e Nefertiti, pois ela foi a única mulher não real do Império Novo sepultada num conjunto de três sarcófagos, o que não era vulgar.

     Conhecem-se três filhos deste antigo casal egípcio: Huy, Seny e Hatiay. O primeiro terá falecido, algures no 10º ano do reinado de Akhenaton, talvez com 25-35 anos de idade. O segundo parece ter seguido a carreira de dignitário e o terceiro veio a ser sacerdote.

    Segundo alguns especialistas, Aperel terá falecido entre os 50 e os 60 anos de idade, ao passo que a esposa não terá ultrapassado os 50. É de supor que dada a carreira de Aperel ter decorrido em dois reinados, ele talvez tenha falecido algures no reinado de Akhenaton, embora não existam certezas. Como em tantos aspectos deste estranho período da História do Antigo Egito, as perguntas são mais do que as respostas...

6 comentários:

  1. Acrescentaria à oportuna postagem do nosso escriba Fernando Azul que os trabalhos de escavação no túmulo de Aperel (também chamado Aperia) na vasta necrópole de Sakara, foram dirigidos pelo egiptólogo francês Alain Zivie.

    A propósito desse notável funcionário, que foi sacerdote pai divino (it-netjer) e vizir (tjati) de Akhenaton, Alain Zivie fez uma conferência no Museu Nacional de Arqueologia em 1994, com a egiptóloga portuguesa Ana Tavares.

    Na altura Alain Zivie era o diretor da Missão Arqueológica Francesa do Bubasteion em Sakara e Ana Tavares era a arqueóloga encarregada das tarefas de escavação no Bubasteion com o estatuto de chargée de recherche (CNRS).

    Na sequência Ana Tavares apresentou ao Instituto Oriental da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na altura dirigido pelo Professor José Nunes Carreira, um projeto de escavação conjunta no Egito, o qual não teve seguimento.

    Depois Ana Tavares tomou a mesma iniciativa junto da Universidade Nova de Lisboa, e empenhou-se com notável profissionalismo e a sua grande experiência no projeto que se iniciou em Kom Tuman no ano 2000.

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  2. Obrigado, professor pelos acréscimos de informação acerca deste membro do período armaniano.

    Confesso, contudo, que não compreendo muito bem a noção de «sacerdote pai divino». Quer dizer que é uma espécie de tutor ou de mentor do monarca?

    Gostaria muito que me esclarecesse sobre a natureza desse cargo e suas funções.

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  3. O título de sacerdote pai divino (it-netjer), típico da organização hierarquizada do poderoso clero do deus Amon em Tebas-Uaset, é de timbre honorífico e é, digamos, de tipo médio, porque antes dele estavam outros cargos elevados, como é o caso do sumo sacerdote de Amon, depois o segundo sacerdote de Amon, o terceiro sacerdote de Amon, o quarto sacerdote de Amon, e só depois vinha o pai divino.

    Este título sacerdotal não tem qualquer conotação de ordem administrativa ou ideológica em relação à casa real faraónica, é apenas de âmbito clerical - embora Aperel exibisse vários títulos de âmbito burocrático civil e militar, ele desempenhava também funções sacerdotais, fenómeno que é muito comum no antigo Egito.

    Para mais esclarecimentos há um livro (que não é fácil de encontrar por aí) do escriba que assina este comentário intitulado O Clero do Deus Amon no Antigo Egipto (Edições Cosmos, 1999), e o assunto dos pais divinos (itu-netjer, plural de it-netjer) é aflorado nas pp. 185-187, entre outras.

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  4. Muito obrigado pelo esclarecimento. Confesso que me intrigava um bocado essa estranha designação titular.

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  5. Caro Fernando:
    Gostei muito da explicação, depois dos chamados profetas chegamos no pai divino(it-netjer). Já li que estes cargos de "grandes profetas" não eram extamente litúrgicos, parece que eram mais administrativos do que religiosos propriamente ditos. De modo similar, me chama a atenção a existencia de um grande número de múmias das ditas " cantoras de amom " na 21ª e 22ª Dinastia. O imperador do Brasil, Pedro II, esteve duas vezes no Egito entre 1970-77, numa das visitas, o Quediva deu-lhe de presente a intacta múmia de Sha-Amen -en-Shu. Despachando-a posteriormente para o Rio, onde descansa na companhia de outras quatro. Esta múmia apresenta inscrições que indicam tratar-se de uma "cantora do templo", sem dúvida de Tebas. Pela beleza do caixão de cartonagem pintada deviam ser influentes. Seria um tipo de sarcedotisa-cantora? Dessas que carregam sistros nas procissões dos relevos ? Uma cantora não-litúrgica talvez? Agradeço qualquer informação adicional sobre este tipo de sacerdócio.

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  6. Só agora, depois do regresso de umas férias retemperadoras, é que vi este texto do nosso assíduo seguidor bloguista, o amigo «Perfil da Planta», solicitando esclarecimentos sobre o sacerdócio amoniano.

    Antes de mais, recomendaria vivamente que antes de publicar textos como este os lesse e relesse para os poder depurar de eventuais anomalias desagradáveis que aqui, infelizmente, estão presentes:

    É o caso de erros de pontuação e de palavras mal escritas, como exatamente, existência, e erros de timbre egiptológico como o nome do conhecido deus Amon ou chamar «profetas» aos sacerdotes do antigo Egito - no Egito faraónico nunca houve profetas tal como os vemos noutras culturas coevas.

    O imperador D. Pedro II esteve por duas vezes no Egito, em 1871 e em 1876, pelo que as datas acima apresentadas são insólitas, e na verdade uma das mais notáveis peças que ele trouxe do país do Nilo foi o belo sarcófago da cantora de Amon chamada Chaamenemsu.

    Quanto aos cargos dos sacerdotes e das sacerdotisas, incluindo as que desempenhavam a função de cantora de Amon (chemait net Amon), eram eminentemente religiosos e litúrgicos mas ao mesmo tempo administrativos porque eles tinham de cuidar do templo - e não era nada fácil porque o templo de Karnak era enorme!

    Para uma mais ampla e detalhada informação sobre as cantoras de Amon e sobre o clero em geral aconselho a leitura dos artigos «Cantoras de Amon» (pp. 175-176) e «Clero» (pp. 209-211) no Dicionário do Antigo Egipto (2001).

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