sábado, 15 de setembro de 2012

Setembro e as vindimas


Eis o túmulo de Sennefer em Cheikh Abd el-Gurna (TT 96), decorado na sua antecâmara com grandes vinhas em latada de onde pendem abundantes cachos de uvas. Os troncos das vides partem da base das paredes e sobem por elas cobrindo o tecto, numa provável homenagem ao deus Osíris, considerado também como o «senhor do vinho» e símbolo de ressurreição. Visitámo-lo na Páscoa de 2010.

Fontes: Dicionário do Antigo Egipto (texto) e
Localyte (foto)

6 comentários:

  1. Que sepulcro cheio de vida ! Um dos mais belos e eleoquentes monumentos de arte egípicia capturado numa ótima foto!

    ResponderEliminar
  2. Sim, a nossa diligente escriba Teresa tem razão, estivemos neste túmulo na visita de estudo que o Instituto Oriental da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa levou a efeito na Páscoa de 2010, numa viagem inesquecível.

    Os grupos que partiram para o país do Nilo em 2011 e 2012 também estiveram na casa de eternidade do alto funcionário Sennefer, alegremente decorada com latadas, antecipando na terra a deliciosa visão das parreiras do paraíso.

    E se tudo correr bem como previsto (malgré crise...) iremos descer a escadaria com mais de quarenta degraus talhados na rocha para lá estarmos de novo na Páscoa de 2013, saudando Sennefer e, já agora, a sua gentil esposa Senetnefert.

    ResponderEliminar
  3. É um excelente exemplo de preservação tumular! As cores estão vibrantes e belas, mesmo se aqui ou ali alguns pedaços de tinta tenham sido removidos. E o estilo decorativo ilustra bem a abundância e a riqueza agrícola do vale do Nilo. Agradeço à nossa colega Teresa essa bela escolha.

    Esse alto funcionário parece ter sido um ilustre cortesão no reinado de Amen-hotep II. A averiguar os textos e inscrições, terá sido "Presidente da Câmara de Tebas" e "Supervisor dos Campos, Jardins e Gado de Amon". Ao que parece a sua família era nobre e fortemente conectada aos círculos régios.

    Podem saber mais acerca do túmulo de Sennefer no link seguinte:

    http://www.osirisnet.net/tombes/nobles/sennefer/ulb/e_ulb_tt96.htm

    ResponderEliminar
  4. Só um pequeno apontamento de carácter pedagógico, mas o mais descontraído possível: os títulos e cargos do antigo Egito (como aliás em todos os sítios e circunstâncias em todo o mundo) são sempre com inicial minúscula:
    - supervisor dos campos, jardins e gado de Amon
    - chefe dos cabeleireiros de sua majestade
    - superintendente dos celeiros
    - comandante dos cavalos e dos carros
    - sumo sacerdote de Amon
    - grande esposa real, etc., etc...

    Os cargos e títulos, mesmo os de maior peso administrativo e político, são sempre com inicial minúscula: é o caso de faraó, rei, imperador, arquiduque, marquês, cardeal, bispo, presidente de câmara, diretor, reitor, etc., etc...

    Quanto ao estranho título de «presidente da câmara de Tebas» ele é muito insólito e mesmo incorreto, para não dizer muito perigoso - é uma designação demasiado moderna para um cargo egípcio, e os leitores podem julgar que havia uma «câmara» na cidade de Tebas e que a cidade tinha um «presidente»!!!

    O título de Sennefer, que se pode ler nas inscrições do seu túmulo, era governador da cidade (hatiá en niut), sendo que a cidade aqui referida era Tebas (em egípcio Uaset), embora ele exiba outros sonoros títulos (mas todos com inicial minúscula).


    ResponderEliminar
  5. Com efeito, professor, "presidente da câmara" será uma designação muito perigosa para se usar, mas foi a que encontrei na Wikipedia. Como não tinha os textos originais e pouco sei de tradução, optei por escrever assim. Não tinha a certeza que espécie de título seria possível atribuir a um funcionário responsável pela administração da cidade, daí a minha "gaffe":).

    Quanto a iniciar os cargos com iniciais minúsculas, era uma regra da qual não tinha conhecimento. Obrigado por me corrigir. Doravante serei mais cuidadoso.

    ResponderEliminar
  6. Não pude deixar de notar a semelhança tremenda que existe entre Osíris e Dioníso. Pelo menos desde que Heródoto fez a descrição do País do Nilo no Livro II das suas Histórias que ambas as divindades são identificadas uma com a outra. De facto, também Dioníso era o deus do vinho, mas tal é muito redutor. O filho de Semele era sobretudo um deus associado aos ciclos agrícolas; um deus que nasce e morre todos os anos, tal como as culturas; um deus cuja ressurreição é motivo de celebração. Penso, e corrijam-me se estiver errado, que estas divindades, e podemos juntar-lhes a jovem Perséphone e o mesopotâmico Dimuzi/Tammuz, são características de povos economicamente agrícolas, pois deificam as realidades do dia-a-dia dessas comunidades. Daí que o culto dionisíaco seja uma importação oriental e não algo original do oikos helénico, onde, por limitações geográficas, predominava sobretudo uma economia pastoril e piscícola.

    ResponderEliminar