domingo, 5 de janeiro de 2014

Túmulo de produtor de cerveja descoberto em Luxor


«Uma parede do túmulo mostra o chefe cervejeiro, também chefe das reservas reais, a fazer oferendas aos deuses»(France Presse, via Público de 4.1.2014, notícia aqui)

4 comentários:

  1. Há pouco tempo fiz uma postagem precisamente acerca desta bebida, suas origens, usos e evolução. Afinal de contas, as areias do Egito muito ainda têm por desvendar!!! Mais um incentivo para continuar a pesquisar!

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  2. O nosso amigo escriba Fernando Azul não perdeu tempo a recordar os textos de timbre cervejólico postados no calor do passado Verão, a propósito desta atempada postagem da nossa diligente escriba Teresa. De facto esta notícia será um incentivo para continuar a pesquisar - embora o escriba Fernando Azul talvez quisesse dizer «continuar a beber»!

    Mas a propósito deste inopinado achado de um novo túmulo conviria prestar alguns esclarecimentos porque o jornal Público não foi muito correto na informação dada - o que infelizmente é habitual nos nossos meios de comunicação que não têm o devido cuidado na redação dos textos.

    Seguindo o link sugerido pela nossa escriba Teresa fui ver a notícia do Público, e lá está a vaga referência à «dinastia Ramsés», quando deveria ser a dinastia de Ramsés II, ou, melhor ainda, a XIX dinastia - de facto as vestes das personagens remetem para essa época (século XIII a. C.).

    Depois vem o nome da personagem, que o texto do Público diz ser um tal «Khonso Em Hebreus» (??!!!), uma desastrada e abandalhada transcrição a partir da forma afrancesada Khonsou-em-heb, que na redação portuguesa deverá ficar como Khonsuemheb.

    Trata-se de um nome típico na época, e cuja tradução é «Khonsu está em festa», sendo o deus Khonsu uma jovem divindade lunar filho do casal divino Amon e Mut, muito venerado em Tebas-Uaset, hoje Lucsor. Outros nomes aparentados daquele tempo são Amenemheb, Horemheb, Ptahemheb, entre outros, aludindo à festa dos deuses (nestes casos Amon, Hórus e Ptah).

    Como a pessoa que no jornal Público redigiu esta notícia não fazia a mínima ideia do significado da palavra «heb» (festa), não esteve com meias medidas - despachou a coisa, transformando «heb» em Hebreus (?!), dando assim uma versão aberrante e insultuosa de um típico nome egípcio que nada tem a ver com os Hebreus!



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  3. Essa particularidade do texto do Público por acaso chamou-me a atenção, mas confesso que não prestei o devido esforço a entender que raça queriam eles dizer com "Khonso Em Hebreus"!!! Khonso ainda pensei tratar-se do deus Khonsu - como o professor muito bem referiu - mas deslindar o restante estava fora do meu âmbito... Quanto à vaga referência da dinastia Ramsés...pois, se calhar o que o jornalista quis dizer seria a dinastia de Ramsés II, já que é evidente que o dito senhor não conhece o suficiente de Egiptologia para designar corretamente a linhagem à qual pertenceu esse notável rei. Entre atropelos e conversas, lá aprendemos um pouco mais! :)

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  4. Voltando à imagem postada, acrescente-se que se trata de uma cena típica dos túmulos que é o filho a homenagear os pais, aqui sentados em elegantes cadeirões e com vestes cerimoniais de impecável linho branco.

    O defunto, de cabeça rapada e com vistoso colar, exibe um cetro que significa autoridade (sekhem), e a esposa tem uma sedutora cabeleira rematada com flores e ergue na mão direita uma pluma, tendo ambos os seus pés colocados sobre escabelos.

    O filho oferece aos pais recipientes com água (embora pudesse ser cerveja, a avaliar pela profissão do pai), e entre eles está uma mesa de pé alto, com aquilo que parece ser a representação estilizada de um grande pão cortado em fatias.

    Ora aumentando a imagem para poder ler melhor os textos hieroglíficos (já um tanto esbatidos), vê-se que a inscrição está organizada, sobre a cena em apreço, em duas partes. A que se prolonga mais para baixo, colocada à direita sobre o filho, diz no essencial:

    «Fazendo oferta de alimentos e uma libação de água para o fabricante de cerveja (do templo) de Mut, Khonsuemheb, justificado (isto é, defunto que passou exitosamente pelo tribunal de Osíris). Feita pelo seu filho, sacerdote puro (ueb) de Mut, Achakhet (...)».

    Nas colunas de tamanho menor, à esquerda, refere-se ao defunto como «O Osíris, fabricante de cerveja do templo de Mut, Khinsuemheb, justificado, e sua esposa, cantora de Mut, senhora do céu, Mutemheb.»

    Por aqui se vê que o casal prestava serviço no templo da deusa Mut (que ficava em Karnak, a sul do grande templo de Amon), ele como cervejeiro, ela como cantora e o filho como sacerdote.

    O curioso é que os nomes atestam isso mesmo: ele era Khonsuemheb (ver o comentário anterior), ela era Mutemheb (»Mut está em festa»), e o nome do filho era Achakhet, que poderá ser traduzido como »Abundância» (à letra é «Muitas Coisas»).

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