segunda-feira, 24 de maio de 2021

Cuidado com os falsários


Um antigo aluno da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa
agora a residir em Londres, enviou para uma apreciação as imagens
que acima se reproduzem, solicitando uma tradução dos hieróglifos
que foram gravados no verso da peça, inscritos no plinto dorsal, um
elemento habitual neste tipo de estatuária para reis e funcionários.

Só que o texto, embora fácil de ler e de traduzir, não tem a elegância
que seria de esperar de uma estátua incompleta de um rei (com cerca
de 40 cm de altura), mas a recriação do faraó ficou torta, sendo pois
uma desajeitada imitação, e quanto à inscrição nem os mais exímios 
falsários se mostram capazes de reproduzir o virtuosismo da escrita.

Nesta deselegante e fruste inscrição pode ler-se: «Deus beneficente,
filho de Amon, nascido de Mut, senhora de Ache (...)». Aqui acaba
o texto porque a peça está partida, mas sem dúvida que era Acheru
(o nome do local onde a deusa Mut era venerada, fica em Karnak).
Em egípcio é «Netjer nefer, sa Amon, mes en Mut, nebet Ache(ru)».

Há por todo o mundo ateliês requintados ou oficinas esconsas onde
se fabricam «antiguidades», para enganar os incautos compradores
que acorrem aos leilões e lojas de antiquários - e depois os falsários
vão jantar em amena reunião familiar e vão dormir repousados sem
problemas de consciência ou perturbações de ordem moral e ética.

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