quinta-feira, 14 de janeiro de 2021

Dito de outro modo...


Voltamos de novo ao papiro feito para Irtiueru, que no documento
é apresentado como sacerdote mas sem especificar em que templo
ou a que divindade prestava serviço, datado do período ptolemaico
(c. 300-30 a. C.), com a curiosa particularidade de aqui podermos
ver destacadas no texto hieroglífico cursivo, e em fundo mais claro, 
três expressões de alternância que se leem ki djed e que significam
 «dito de outro modo», «de outra forma», ou ainda «outra versão».

A complexidade de muitos capítulos reunidos para figurarem com
as vinhetas respetivas nos exemplares do «Livro dos Mortos», que
foi sendo composto ao longo de vários séculos, perturbou também
os redatores dos textos originais, já que os próprios escribas viam
essa tarefa como sendo deveras complicada porque não entendiam
por vezes os textos de tempos mais antigos que estavam a copiar,
os quais não condiziam entre si por serem de épocas diferentes. 

No «Livro dos Mortos» em tradução portuguesa que agora está
a ser preparado, a expressão egípcia ki djed é interpretada como
«outra versão», registando assim a indecisão do escriba perante
as alternativas. Eis alguns exemplos, retirados do capítulo 17,
mostrando o uso de ki djed destacado no original a vermelho:

É o Ocidente, que foi estabelecido para os bau dos deuses
de acordo com as ordens de Osíris, senhor do deserto ocidental.
Outra versão: É o Ocidente, para onde Ré envia os deuses
e os faz lutar. Eu conheço o deus grande que lá se encontra.
Quem é ele?
É Osíris. Quanto ao que existe lá é o deus grande.
Outra versão: É o seu cadáver.
Outra versão: É a eternidade e a perpetuidade.

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