sábado, 13 de fevereiro de 2021

Início do «Livro dos Mortos»



A vinheta que ilustra o capítulo 1 do «Livro dos Mortos» mostra
o sarcófago do defunto sobre um catafalco decorado, que desliza
sobre um trenó na areia do deserto, puxado por alguns familiares 
e amigos do defunto, a caminho da necrópole, vendo-se também
o espólio que ficará no túmulo  -  uma ilustração que faz sentido
dado que se trata do primeiro capítulo da coletânea de fórmulas.

Na primeira imagem vê-se o cortejo fúnebre do Papiro de Ani,
seguindo-se em baixo o texto em linhas verticais de hieróglifos
cursivos, em escrita retrógrada e com leitura da esquerda para 
a direita, com o início do capítulo a vermelho (rubro) dizendo:

Início das fórmulas para sair à luz do dia, das preces 
e recitações para ir e voltar do reino dos mortos,
que é um benefício no Belo Ocidente.
O que deve ser dito no dia na entrada no túmulo
para poder lá reentrar depois de ter saído.

A tradução varia de autor para autor, mas aqui (e numa versão
em português que neste momento está em preparação) opta-se
por verter «Início das fórmulas para sair à luz do dia» a partir
do egípcio hat em rau nu peret em heru, seguindo-se as preces
(setjesu) e as recitações ou glorificações (sakhu) para ir (peret)
e voltar (hait) do reino dos mortos (kheret-netjer), a necrópole,
que é um benefício (akhu) do Belo Ocidente (Amentet netjer).

Também no Papiro de Hunefer, que era escriba e mordomo do
faraó senhor das Duas Terras, se manteve a tradição de evocar
no início das fórmulas a viagem para a necrópole, e que afinal
era o início da última jornada para o Além, rumo à eternidade,
com as instruções sobre as palavras que o morto tinha de dizer
ao dar entrada no seu túmulo no dia do sepultamento (qeres).

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