segunda-feira, 29 de março de 2021

Papiros de Nu e de Ani



Escreveu recentemente uma egiptóloga que «O Papiro de Nu,
actualmente em exibição no Museu Britânico, e exemplo de
livro funerário típico dos nobres tebanos do Império Novo,
é o maior, o mais perfeito, melhor conservado e iluminado
de todos os papiros funerários que sobreviveram até nós»,
numa néscia asserção que não é corroborada pela realidade, 
donde se conclui que convém ver e apreciar outros papiros. 

É opinião pessoal dela, talvez influenciada por uma fonte que
não é mencionada, mas a primeira imagem mostra uma parte
do Papiro de Nu referente aos capítulos 84 (transformação em
garça chenti), 81 (transformação em lótus), 87 (transformação
em serpente), que pode ser comparada com os fragmentos que
lhes correspondem no Papiro de Ani da segunda imagem, com
os mesmos capítulos em montagem gráfica para comparação.

Além disso o Papiro de Nu não é o maior, embora tenha cerca
de 34,5 cm de altura, mas há papiros funerários posteriores de
40 cm de altura, e também no comprimento não é maior que o
da sacerdotisa Nesitanebetacheru (Papiro Greenfield) que tem
37 m (o exemplar de Nu fica-se pelos 19,27 m); quanto à sua
perfeição compare-se com o Papiro de Ani, que também vale 
para o ser «melhor iluminado» (basta comparar as vinhetas).

Diz ainda a egiptóloga que o Papiro de Nu está em exibição
no Museu Britânico, mas a informação do próprio museu diz
que o documento está «not on display» (esteve apenas numa
exposição temporária: novembro de 2010 a março de 2011),
e quanto à sua conservação o registo do museu informa que 
ele está «cockled, fractured», e vestígios de «insect attack»,
com parte do «orpigment faded», além de estar «friable».

Ou seja, antes de se escrever de forma displicente e mesmo
desrespeitosa para com os leitores convinha alicerçar o que
se redige com uma investigação prévia sólida e séria, assim
se evitavam dislates grosseiros, devendo também ter maior
cuidado com a terminologia, porque não é correto apelidar
de «nobre» o funcionário Nu, que era apenas um mordomo
do intendente do tesouro real Amen-hotep (XVIII dinastia).

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