quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

O Egito para os mais jovens


Aproveitando a boa exposição sobre os «Faraós Superstars»,
e que, com grande sucesso, continua a decorrer na Fundação
Calouste Gulbenkian (e que foi vista, até agora, por milhares
de pessoas), uma pequena feira do livro foi lá organizada,
quer no edifício principal quer na área do museu, com obras
dos principais e mais conhecidos egiptólogos portugueses, e
com uma secção dedicada aos mais jovens, vendo-se acima
dois dos bonitos livros que lá estão expostos para venda.

Mas contrastando com a elevada qualidade estético-gráfica 
e didática do álbum juvenil que se revela no lado direito, da
Editorial Caminho, que contém alguns acetatos para melhor 
se entender certas imagens, o livro à esquerda mostra vários
erros lamentáveis, que a Editora Universal não soube evitar,
por falta de uma revisão científica e por clara impreparação 
de quem fez a tradução do original inglês  -  e para o efeito
não basta saber inglês, convém conhecer bem o português!

Se já numa obra destinada, genericamente, a um público
mais adulto, os erros de português são um grave atentado
à inteligência das pessoas (que compraram os seus livros,
por vezes bem caros, na convicção de que estão corretos),
em livros para crianças, ainda numa fase de aprendizagem
nos seus vários graus de ensino, isso será gravíssimo, uma
falta de nível cultural, de rigor, de profissionalismo, como
patenteia o álbum da Universal (integrada no grupo Leya).

Não se percebe porque é que alguns nomes que constam
no pequeno volume ficaram à maneira inglesa quando os
jovens leitores são portugueses, além de várias anomalias
de redação, como se vê neste pequeno apontamento, para
mostrar como num livro de apenas 32 páginas está isto:

A deusa Uadjit, do Baixo Egito, ficou como Wadjet (p. 5).
Ao deserto chamavam decheret e não deshret (p. 6).
Gato em antigo egípcio era miau e não «miw» (p. 8).
O nome real era escrito em cartela, não cartouche (p. 20).
Anúbis tem cabeça de canídeo, não de chacal (p. 22).
Há pirâmides famosas em Guiza, não em Gizé (p. 26).
Não é embalsamento mas sim embalsamamento (p. 28).
Não é shabti mas chauabti ou estatueta funerária (p. 28).

Além disto, na imagem da p. 14 vê-se a deusa Ísis com uma
cornamenta liriforme e vestida com um belo traje vermelho,
mas a legenda diz que é a rainha Nefertari, a qual exibe nos
seus braços braceletes, não pulseiras (essas estão nos pulsos
da deusa); na p. 21 «ensina-se» às crianças como escrever o
seu nome em hieróglifos mas os exemplos são desastrados e
pejados de erros; na p. 24, um casal de defuntos é mostrado
como exemplo de «dançarinos e músicos» (?); na p. 24 vem
o «Templo Bubástis» mas é o templo de Bubástis, tal como
dizemos a Torre de Belém, ou a Sé de Lisboa; na p. 28 duas 
estatuetas funerárias são apresentadas como «duas mulheres 
shabtis»; na p. 29 diz-se que os corpos dos defuntos seriam 
embrulhados em ligaduras, mas ficaria melhor enfaixados.

É um assalto aos pais que compram o livro
e um insulto às crianças que o vão ler!

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