terça-feira, 7 de dezembro de 2010

A mumificação e embalsamamento










Chamamos mumificação ao processo de preservação corporal, que pode acontecer naturalmente em algumas regiões do planeta, por condições ambientais propícias, (no caso do Egipto, o calor e clima habitualmente muito seco), ou de forma intencional através de determinados procedimentos. Foram descobertos, do período pré-dinástico, seres humanos, geralmente em posição fetal, que se encontravam depositados em covas no deserto.
Os egípcios desde muito cedo tentaram preservar o corpo dos seus mortos, pois fazia parte da sua cultura e religião, acreditar fortemente na vida para além da morte, em que o espírito teria necessidade de reconhecer o respectivo corpo. Utilizaram uma técnica a que se chamou mumificação (dessecação do corpo), e que era seguida de outros procedimentos a que se chama embalsamamento, embora frequentemente se misturem os termos de forma indestinta.
Apenas as pessoas de estatuto mais elevado teriam acesso a estes procedimentos, assim, estariam em condições de acesso a esse serviço, para além do faraó e respectiva família, os altos funcionários, sacerdotes, e chefias militares, pois tratava-se de um procedimento bastante dispendioso.
Vamos por partes, descrever os passos mais importantes de cada uma dessas fases:

1-Na mumificação, começava-se por se proceder à extracção do cérebro ao morto, através das fossas nasais, com num ferro especial, que era rodado várias vezes até praticamente liquefazer o mesmo, saindo esse material pelas fossas nasais. Seguidamente faziam uma incisão na região abdominal, para extracção dos intestinos e órgãos internos. De seguida o interior do abdómen era lavado com vinho de palma, e cheio com mirra, canela e outros perfumes, sendo novamente fechada a cavidade por uma sutura com linha. Posteriormente todo o corpo era envolto durante 40 dias, em natrão, substância natural retirada de certos locais e que quimicamente corresponde a carbonato de sódio hidratado (Na2CO3•10H2O), indo provocar a perda quase total de água, e evitando o desenvolvimento de bactérias.
Outros métodos, mais aligeirados podiam ser realizados para o caso de se pretender um serviço menos dispendioso, mas também de menor qualidade, em que eram injectados através do ânus líquidos à base de óleo de cedro, e que provocava uma liqueficação dos órgãos internos que eram posteriormente extraídos, sem necessidade de abertura da cavidade abdominal.

2-Depois da fase da desidratação, procedia-se a nova lavagem do corpo,. Algumas vísceras eram lavadas e preservadas, como, o fígado, os pulmões, o estômago e os intestinos e introduzidos em vasos canopos, que frequentemente tinham tampas diferentes correspondendo aos 4 filhos de Horus: Imseti (cabeça de homem onde se colocava o fígado); Hapi (cabeça de babuíno onde se colocavam os pulmões); Duamutef (com cabeça de canídeo, onde se colocava o estômago) e Kebehsenuef (cabeça de falcão, onde se colocavam os intestinos). O coração, normalmente era deixado no seu local, sendo colocado em cima dele frequentemente um escaravelho com algumas passagens dos livros dos mortos.
Ainda se procediam a cuidados de conservação especial no que respeitava à face, às mãos e unhas
Por fim o interior do corpo era cheio com linho, natrão e ervas aromáticas. Finalmente era envolvido externamente com balsamos de vários tipos, e enfaixado com longas dezenas de metros de faixas de linho, um procedimento executado por especialistas nessa actividade.

Haveria ainda celebrações religiosas em que o sacerdote ou o filho mais velho do defunto, fazia o procedimento da "abertura da boca", em que o oficiante, tocava em algumas partes do corpo com um objecto com forma de um peixe numa das pontas, ou com uma enxó, e tinha o significado de conferir à boca, a capacidade para falar, comer ou beber, e os olhos, nariz e ouvidos para recuperarem as suas funções naturais.

No fim, o corpo era introduzido em sarcófagos que podiam ser feitos de vários materiais, como pedra, madeira, metal ou cartonagem.
Este processo demoraria 30 dias que associado aos 40 dias iniciais da primeira fase, perfaziam um total de 70 dias. Seria esse tempo certamente utilizado para completar o que faltava na decoração do túmulo.

8 comentários:

  1. Professor Luis Araújo... ousei fazer este texto com os pontos essenciais da mumificação e embalsamamento, deparei-me com alguma dificuldade em separar os dois conceitos... Pois fico a aguardar as suas críticas construtivas.
    Em rodapé do post já está o sunu bem enfaixado para que o castigo magoe menos ;-)

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  2. Parece que estou a reconhecer o Ginger do British, será?

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  3. A minha querida Amiga Teresa reconheceu muito bem a famosa múmia de «Ginger» que está no British Museum (é a primeira foto à esquerda do contributo do nosso sunu). Trata-se de um corpo masculino que apareceu sepultado em mumificação natural depois de ter sido inumado em posição fetal (propícia para o renascimento).

    A tumulação deste Ginger (assim chamado pelo seu cabelo ruivo que em parte se mantém) data da Época Pré-dinástica, período de Nagada II, e será de cerca de 3250 a. C., ainda o Egipto não estava unificado. Parece que então estaria dividido em vários pequenos reinos tendo na agricultura, na caça e na pesca o seu meio de sustentação.

    É também deveras interessante mencionar que ele foi sepultado com vários artefactos típicos desse período: vasos de terracota com decoração em relevo, vasos pintados, vasos de boca negra e outros objectos. E note-se que as colecções egípcias do Museu Nacional de Arqueologia, do Museu da Farmácia e do Museu de História Natural da Universidade do Porto possuem objectos semelhantes desse período.

    Quanto ao contributo do nosso sunu, ele esclarece bem o essencial da questão relacionada com a mumificação e o embalsamamento, sendo esta uma fase subsequente da mumificação, quando se começava a espalhar os bálsamos, impregnando com eles o corpo mumificado. Já agora aconselho a leitura dos artigos «Múmia» e «Mumificação» no Dicionário do Antigo Egipto (pp. 592-595).

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  5. uff... livrei-me da chibatada. Foi por pouco ;-)

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  6. Não é grave, mas em vez dos mencionados «vasos canopos», que muitos dos leitores do blogue não sabem o que é, ficaria melhor a objectiva expressão «vasos de vísceras». Assim fica-se logo a ver o que são esses recipientes e para que é que serviam.

    Conviria consultar o Dicionário do Antigo Egipto e ler o artigo «Vasos de vísceras» (pp. 862-863), para ver o anacronismo da designação de canopos... Dá-se o nome de vasos canópicos a outro tipo de recipientes, não a estes que aqui são mencionados.

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  7. Oi pessoal....A técnica da mumificação pelos egípcios mostravam que os mesmos detinham de fato um certo conhecimento de química talvez mediante a observação dos corpos no deserto que mumificavam-se naturalmente entre outros fatores considerando que usavam produtos químicos naturalmente encontrados em diversas regiões do Egito.E temos que considerar o deus Anúbis que orientava os mortos e também os embalsamava foi quem teria ensinado os egípcios a técnica afinal de contas a vida pós-morte era muito importante para o(a) falecido(a) e manter o corpo preservado segundo os rituais era mais que recomendável...

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  8. A técnica de mumificação egípcia era fundamentalmente baseada na desitratação com o uso de sais. Não é muito diferente da conservação do bacalhau, todavia usavam o cloreto e o carbonato de sódio que abundavam nos lagos salgados dos desertos próximos ao Mediterrâneo. Com eles ressecavam o cadáver, saponificavam as gorduras que assim escorriam do corpo, a persistencia dos sais nos tecidos musculares e pele evitava a reitradação através da umidade do ar. Os outros procedimnentos de retirada dos órgãos internos eram necessários parra otimizar o acesso e o processo de salgamento. O uso de próteses e óleos aromáticos eram finalizadores e meramente cosméticos, não apresentando ação anti-séptica efetiva. A múmia era uma espécie de "carne-seca " ou "charque", como chamamos este tipo de conservação de carne bovina salgada aqui no Brasil. Interessante é a tentativa de reintroduzir as gorduras saponificadas na múmia, técnica típica da XXI Dinastia, visavam amenizar o aspecto "pele e osso" das múmias de períodos anteriores, como a gordura putrecia ao longo do tempo, formavam-se gases que davam um aspecto de "bolha" a estas múmias. No Nuseu Nacional no Rio de Janeiro há uma múmia ptolomaica enfaixada com os membros separados do corpo, o exemplar é de acabamento superior a qualquer outro período.

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