Local: Nova Iorque, Central Park
Como é que apareceu um obelisco em Nova Iorque?
Para responder a esta pergunta, temos de recuar bastante no tempo.
O faraó Tutmés III (1458 a 1425 a.C. *) mandou erigir dois obeliscos em granito de Assuão, no templo de Ré, na cidade de Heliopolis - no Baixo Egipto (capital do XIII nomo). Estes obeliscos tinham de dimensão: cerca de 21 metros de altura e perto de 200 toneladas de peso.
Cerca de duzentos anos mais tarde foram acrescentados, por Ramsés II, textos hieroglíficos, para comemorar as suas vitórias.
Mais tarde foram transladados do local original para Alexandria, por César Augusto por volta de 12 a.C.
Cerca de duzentos anos mais tarde foram acrescentados, por Ramsés II, textos hieroglíficos, para comemorar as suas vitórias.
Mais tarde foram transladados do local original para Alexandria, por César Augusto por volta de 12 a.C.
O primeiro foi transladado para Londres, após oferta de Mehemet Ali, (1819) em comemoração das batalhas de Lord Nelson (na batalha do Nilo) e de Sir Ralph Abercromby (na batalha de Alexandria em 1801). Só em 1877, com um patrocínio milionário de Sir Erasmus Wilson para o transporte, procedeu-se à mudança para Londres, tendo ficado na margem do Tamisa em Embankment.
O segundo obelisco foi oferecido aos Estados Unidos da América por Ismail Pasha, depois da abertura do canal do Suez. Com o apoio financeiro de William H. Vanderbilt, foi também transladado e erguido em Central Park em 1881 (actualmente nas traseiras do Metropolitan Museum of Art).
Estes dois obeliscos foram popular e erroneamente conhecidos por “Agulhas de Cleópatra” mas, como é evidente, eram quase 1400 anos mais antigos.
Estes dois obeliscos foram popular e erroneamente conhecidos por “Agulhas de Cleópatra” mas, como é evidente, eram quase 1400 anos mais antigos.
Provavelmente, a localização original no Templo de Ré em Heliopolis, seria da seguinte forma: o de Londres estaria no lado ocidental do templo, pois refere o deus Atum; enquanto o de Nova Iorque se refere a Ré-Horakhti (que evoca o nascer do Sol) estaria no lado oriental.
Aqui fica um link sobre os obeliscos espalhados pelo Mundo… mas a maioria estão fora do Egipto!!!
* Se contarmos com o reinado conjunto de Tutmés III com a rainha faraó Hatchepsut, sua madrasta, seria de 1479 a 1425 a.C.
Quer então dizer que os nossos estimados escribas Hermínia e Jorge (que também é sunu) já regressaram sãos e salvos de Nova Iorque. E pronto, com o regresso da Teresa e do Paulo da gélida Berlim já estamos todos. Este simpático casal da Afrânio Peixoto levou consigo uma estatueta de Bés - e os nossos amigos nova-iorquinos que divindade levaram?
ResponderEliminarJá há bastante tempo que não revia a imagem do maltratado obelisco egípcio de Tutmés III erguido em finais do século XIX no Central Park. Na verdade a poluição intensa da cidade tem erodido de forma drástica as inscrições do monumento, e por este andar daqui a cem anos já poucos hieróglifos estarão legíveis - e eles foram lá gravados para durarem milénios! Os que ficaram no Egipto ainda têm as inscrições impecáveis!
Aumentei a foto postada pelo nosso sunu e apanhei parte da inscrição central respeitante a Tutmés III (as duas inscrições laterais que a acompanham são de Ramsés II, cerca de duzentos anos depois). A partir de certa altura do obelisco pode ler-se: «... rei do Alto e do Baixo Egipto (nesu-bit), Menkheperré (prenome de Tutmés III), amado de Atum (meri Atum), deus grande (netjer aá), com a sua Enéade (hená Pesedjet-ef)...».
O texto do nosso sunu assinala o reinado de Tutmés III, da XVIII dinastia, como sendo de 1504 a 1450, mas trata-se de uma datação ultrapassada, pois estudos mais recentes dão uma datação mais plausível para esse frutuoso reinado: 1458 a 1425 (ou então de 1479 a 1425 se aqui incluirmos o reinado conjunto que teve com Hatchepsut).
Obrigado, Professor, pelo seu excelente comentário. De facto, o obelisco não está em bom estado, a face ocidental (na foto) é a que melhor se vê, seguida da face contígua, virada a Norte. As outras duas têm as inscrições praticamente irreconhecíveis. A localização escolhida para o obelisco também não foi a melhor, pois está relativamente escondido no Central Park, como se vê na imagem do Google Earth (Círculo vermelho), ocultada por muitas árvores, de maneira que só o encontramos se soubermos a sua localização, já que só se começa a ver quando estamos a menos de 50 metros do dito.
ResponderEliminarTendo em conta os comentários do Professor a propósito da reivindicação do busto de Nefertiti pelo Sr. Hawass, noto uma ligeira inflexão, para não falar em dualidade de critérios, quando se refere o mau estado do obelisco em Nova York. Ou estarei enganado?!
ResponderEliminarO estimado amigo escriba Jorge Mateus julga ver dualidade de critérios quanto ao destino dos objectos e monumentos egípcios que se encontram fora do país do Nilo - o que tem a ver com a devolução ou não dos mesmos ao país de origem. Mas só há um critério, apenas um critério: o da preservação do objecto!
ResponderEliminarSe determinado objecto ou monumento fica melhor preservado, protegido, estudado ou exposto, na Europa ou nos Estados Unidos, então que se mantenha onde está - é o caso do famoso busto de Nefertiti mostrado a milhões de pessoas com uma notável qualidade expositiva, com grande dignidade museológica, e um excelente estado de conservação. Não é difícil de imaginar o seu destino no Museu Egípcio do Cairo!
Mas se determinado objecto ou monumento corre o risco de se deteriorar, de perder em poucos anos aquilo que se preservou em milénios, então que fique no Egipto, cujo clima preserva melhor certo tipo de materiais - é o caso do obelisco tutméssida de Nova Iorque, sujeito à intensa poluição dessa gigantesca cidade e às chuvas ácidas que o têm corroído, o que não sucederia se estivesse no Egipto.
Ora aqui está a grande diferença: não interessa tanto o local onde está o objecto mas sim saber se ele está bem preservado e tratado com a dignidade que merece. Por outro lado, sendo esses monumentos uma produção da brilhante civilização do antigo Egipto eles são também património de toda a humanidade!
E por fim, sejamos francos em tudo isto: Zahi Hawass sabe bem que o seu «pedido» não é razoável, mas há por detrás do gesto dele e doutros uma clara intenção política com outros objectivos. Se o actual Egitpo tivesse condições para tratar os «milhares de Nefertitis» que agora reivindica os egiptólogos em particular e os defensores da cultura e do património em geral seriam os primeiros a concordar - mas sabemos todos muito bem que não é assim.
Gostei do seu comentário Professor, obrigado.
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