quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Do Tejo ao Nilo

Pegando no “mote” dado pelo prof. Araújo, e objecto de uma das suas aulas no II curso livre de egiptologia, a que tive o privilégio de assistir, lembrei-me dos meus tempos de aluno de outros saberes, hoje não tão frescos na memoria como na época, em que o tema da etnografia das sociedades piscatórias foi tratado. Esta problemática fez-me pensar numa hipótese de estudo comparativo, entre as sociedades piscatórias portuguesas, já agora do Tejo, e o Nilo dos tempos faraónicos, sujeito obviamente o período às fontes disponíveis (a existirem?). No Tejo trata-se das comunidades que ocupavam as suas margens num espaço temporal que vai grosso modo dos anos 20 aos anos 60, e que foram objecto de estudo, diga-se pouco sistematizado, por alguns autores do neo-realismo, produzindo uma espécie de etno-romance, casos de Raul Brandão, Alves Redol, Soeiro Pereira Gomes e outros, também do meio académico, (ex de Pina Cabral), esses já com responsabilidades de estudo cientifico. Lembro concretamente a micro sociedade dos Avieiros, que durante anos ocuparam alguns pontos das margens do “mar da palha”, e que, devido à sua estratégia de reprodução social, fechados, quase endogâmicos, tinham o “Tejo como mundo”. A caracterização desta sociedade está amplamente documentada, e seria fastidioso enumerá-la aqui, mas, ao pensar nela, fui imediatamente remetido para o Egipto faraónico, onde também o “mundo” tinha o tamanho das duas terras, e onde, sabemos bem, a actividade marítima era intensa, logo comunidades piscatórias deveriam existir, para quem o Nilo, se calhar, também era um mundo. O mais curioso de tudo isto é que este “mundo” dos anos 50 está a milhares de anos do outro.

Foto (montagem AL, fonte DVD II curso livre egiptologia Fac. Letras)

2 comentários:

  1. De facto, um estudo comparativo entre duas comunidades piscatórias separadas no tempo (com milhares de anos de diferença) e no espaço (são milhares de quilómetros de distância), deve ser um desafio aliciante.

    Para uma familiarização descontraída e propedêutica com o mundo piscatório do Egipto faraónico aconselharia o nosso estimado antropólogo do grupo de escribas a leitura do artigo «Pesca», no Dicionário do Antigo Egipto, pp. 679-680, o qual remete para uma sumária bibliografia de apoio.

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  2. Obrigado professor, prometo que, para eliminar esta preguiceira aguda, eu próprio me auto-flagelarei com umas chibatadas, neste percurso difícil da procura das fontes..

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