quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A escrita hieroglífica (Versão afeiçoada)

(Versão reeditada após correcções)


Falta cerca de um mês para se dar início ao “Curso de Iniciação à Escrita Hieroglífica”, que será feito no Museu Nacional de Arqueologia de Lisboa, de 4 a 29 de Janeiro de 2011, das 18 às 20h. Será ministrado pelo Professor Luís Manuel Araújo, que faz o favor de ser nosso grande amigo e colaborador deste blog.
Por esta razão, achei bem escrever um pouco sobre a escrita hieroglífica e sobre a sua decifração.
A escrita hieroglífica foi aparecendo desde as primeiras dinastias, talvez cerca de 3100 AC e era constituída por um conjunto de símbolos e pictogramas, que com a evolução se foram tornando cada vez mais complexos.
Hieróglifo, foi um termo introduzido pelos gregos correspondendo à junção de duas palavras, hierós que significa “sagrado” e glyphein, que significa "escrita". Apenas um número limitado dos antigos egípcios tinham verdadeiro conhecimento desta escrita, bem como os principais membros da realeza, os sacerdotes, os escribas ou indivíduos com cargos de destaque. Este tipo de escrita estava mais adaptada para ser feita em trabalhos de pedra, tais como: paredes monumentais, túmulos, obeliscos e na estatuária. No entanto, em simultâneo, também foi implementada um outro tipo de escrita, a que se chamou hierática, de tipo cursivo, mantendo alguma semelhança à hieroglífica, mas mais adaptada a ser escrita com pincel embebido em tinta preta ou vermelha (rubra) em materiais como papiro ou ostracos- Daí a expressão "rubricar", que hoje já não se usa para a escrita com rubro, como nessa época, mas sim, para assinatura simplificada.
Muito mais tarde, por volta do Séc. IX AC desenvolveu-se uma outra escrita, chamada Demótico, produto da evolução da anterior hierática, mais estilizada.
Desde o final do século VI DC, quando o imperador Justiniano, mandou encerrar ao culto o último templo ainda em actividade (Fila /Philae), o conhecimento da escrita hieroglífica desapareceu completamente.



Foi graças ao aparecimento duma estela perto da localidade de Roseta, no delta ocidental, perto de Alexandria, que foi decifrado pelo francês Champollion em 1822, os segredos da escrita hieroglífica. Foi essa “pedra de Roseta“, um bloco de 762 kg em basalto negro, parcialmente truncado, com 114 cm de altura e 72 cm de largura, que apresentava o mesmo texto em hieroglífico, em demótico e em grego, o que correspondia a um decreto pelo supremo conselho sacerdotal em Mênfis, no reinado do Faraó Ptolemeu V Epifrânio (205-180 AC). O aparecimento no texto hieroglífico de símbolos dentro de cartelas, que correspondiam em grego à palavra Ptolemeu, foi o pontapé de saída para a decifração desta escrita, que apesar de tudo, não foi nada fácil e demorou ainda bastantes anos.
A escrita hieroglífica possuía características que dificultaram no início a sua decifração:
Primeiro o grande número de símbolos utilizados (cerca de 2000, mas na última fase, chegaram a cerca de 3000), havendo inclusive alguns símbolos que eram apenas determinativos, que não se liam, mas davam o sentido certo à palavra em causa.. Depois o texto podia ser apresentada em várias direcções, sinistro-dextra, dextro-sinistra ou vertical em colunas de cima para baixo (os símbolos de elementos vivos ficam sempre virados para o início da frase). Por último, não havia espaços entre as palavras.
Foi graças a essa decifração, que se passou a ter acesso ao conteúdo dos textos do antigo Egipto, e com isso podermos ter conhecimento do enquadramento histórico, dos conhecimentos da época, da estruturação da sociedade, de decretos e leis, de descrição de doenças e seus tratamentos e inclusive, de textos literários de valor inestimável. Também ficámos a saber que no antigo Egipto, eram muitas vezes apresentados textos com características propagandísticas, que por cruzamento com outras fontes se descobriu nem sempre serem totalmente verdadeiras as suas afirmações. São conhecidas, alterações de textos em monumentos, estátuas e esfinges, por faraós posteriores, e também, se verificou que nalguns textos ou em monumentos sempre se clamou vitórias gloriosas, quando nem sempre isso aconteceu na realidade. Mas isso caberá aos historiadores e arqueólogos conseguir filtrar toda essa informação.



6 comentários:

  1. obrigado, já corrigi... No site do MNA ainda tem 17 horas, mas parece que é às 18h (portanto avança tudo 1 hora)

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  2. Por Osíris! Depois da imensa alegria que foi ler o texto maético da Maria Adelaide Luís, o nosso sunu Jorge Pronto deixou-me perturbado.
    A Teresa, sempre perspicaz, notou a anomalia do horário errado, de facto o curso começa às 18 horas de terças, quartas e quintas no mês de Janeiro.

    Mas o nosso sunu, que em princípio me deveria curar, prostrou-me num estado de quase depressão com os erros do seu texto sobre a escrita hieroglífica, redigido com o seu salutar entusiasmo mas sem as devidas consultas e cautelas.

    Ora vamos lá corrigir algumas imprecisões do texto para os nossos leitores gostarem ainda mais de «Faraó e Companhia»:

    No papiro e nos óstracos não se escrevia com um estilete mas sim com um pincel embebido em tinta preta ou vermelha (esta mais rara), sendo o vermelho o rubro - daí a nossa expressão rubricar.

    O texto que foi colocado junto da gravura de Champollion (e não «Champalion», como mais abaixo se escreve) tem um erro muito grave: a escrita demótica (que começou no século IX a. C.) nada tem a ver com a influência grega (os Gregos vieram muiuto depois). Isso passa-se com a escrita copta, já na nossa era, que é baseada no alfabeto grego.

    Por outro lado, o imperador Justiniano, que reinou em Bizâncio de 528 a 565, encerrou o templo de Filae em meados do século VI e não no século IV.

    Outro erro: a escrita hieroglífica chegou de facto a ter mais de 3000 signos na Época Greco-Romana, mas não há nisso qualquer influência grega, nem podia haver porque são sistemas de escrita muito diferentes.

    Bom, se estivéssemos numa escola do antigo Egipto estas desagradáveis anomalias seriam punidas com... deixa-me cá ver... Proponho vinte chibatadas e três pauladas a serem dadas no nosso sunu pela mão firme da Hermínia!

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  3. Que Anubis me morda...e Sobek me ferre o dente... depois das bem merecidas vergastadas...
    Sim, fui responsável por alguma azia e estado quase depressivo provocada no nosso querido professor, bem como, pela confusão que estava a provocar na cyberaudiência.
    O professor, sempre atento às imprecisões e bacoradas, com paciência e determinação recolocou-me na direcção da MAET, pelo que prontamente fui corrigir, as imprecisãoes apontadas..
    O meu humilde agradecimento

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  4. Ó Jorge, seguindo o exemplo do professor, o melhor é começares a receitar disso lá no consultório, parece que funciona mesmo...
    Assina, este humilde escriba e forte candidato ao remédio =)

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  5. não acho as tintas e os materiais usados na escrita dos hieróglifos

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