O significado do ritual
O templo estava no centro da religião egípcia. A sua própria existência, na mente dos egípcios, assegurava a sobrevivência da sua terra e do seu modo de vida. Um grupo de “textos dos edifícios” nos templos greco-romanos de Edfu e Dendera sumariza as crenças dos egípcios relativamente `a origem histórica e mitológica dos templos. Cada novo templo era olhado não só como um reflexo do primeiro templo mítico, construido na “Primeira Ocasião”, mas também como uma representação real da Ilha Sagrada que emergiu das águas lamacentas do grande oceano primordial.
O templo e tudo o que nele se inseria, representavam intencionalmente a realidade - uma situação desejada - da mesma maneira com o que acontecia nos túmulos. Todas as representações tinham poderes mágicos e podiam “reviver” através de rituais especiais. Nas paredes havia apenas espaço para acomodar uma selecção de ritos extraidos do ritual original, maior e mais elaborado. Acredita-se que estas cenas poderiam ser “revividas” através da representação da cerimónia da “Abertura da Boca”. O templo “Vivo” possuia uma força mágica poderosa. Estes rituais asseguravam ao Rei, ao Egipto e seus habitantes a manutenção de uma boa vida.
Tudo o que existia no Egipto podia ser oferecido aos deuses,através do Faraó (ou sumo sacerdote, seu delegado). Havia dois tipos de rituais: os grandes festivais anuais cujas cerimónias variavam e os diários, que nunca eram alterados e que implicavam a aplicação diária de unguentos, perfumes, depois da limpeza do remanescente do dia anterior, a vestimenta, alimentação, sempre acompanhados de purificações e orações. Esta cerimónia diária, efectuada por três vezes, simbolizava o renascimento diário do Sol e a ressurreição de Osíris, o que era um factor vital na vida dos egípcios.
Nestas cerimónias pode-se observar o elemento “humano” dos deuses. Talvez apenas o festival de Osíris, que tinha lugar anualmente em Abido, possa simbolizar um acontecimento que não imitava meramente os “highlights” da existência mortal. Um intenso luto precedia as alegres festas da ressurreição, quando os peregrinos celebravam Osíris.
Este sistema funcionava bem para os Egípcios. Foi assim durante milhares de anos, até os cristãos finalmente ocuparem os templos. Certamente que os rituais produziram os resultados esperados: um rei poderoso, um grande “império” e uma civilização magnífica.
(in The Egyptian Kingdoms by A. Rosalie David, PhD)
Merece ser vivamente felicitado o amigo Jorge Mateus por ter aqui evocado um aspecto fundamental da religiosidade egípcia que assentava nos templos e no culto que lá se fazia aos deuses. Na imagem o rei Seti I oferece à deusa Ísis uma bandeja repleta de iguarias.
ResponderEliminarÉ uma contribuição oportuna, neste caso baseando-se num texto de Rosalie David, egiptóloga britânica que esteve entre nós por altura do II Congresso para Jovens Egiptólogos que o Instituto Oriental da Faculdade de Letras de Lisboa levou a efeito em 2006 no Museu da Farmácia.
Entretanto, será no futuro de evitar o uso de expressões inglesas como Abydos (que em inglês até se lê «Abaidus», longe da prosódia egípcia) e optar por formas consagradas em português: neste caso seria Abido (do egípcio Abdu ou Abdju).
Para resolver estas perturbantes situações será útil a consulta do Dicionário do Antigo Egipto, que apresenta as versões portugesas dos nomes egípcios (próprios e comuns), evitando assim o uso de formas francesas, inglesas, alemãs, italianas, espanholas, ou outras.
Tem toda a razão professor, já corrigi. Obrigado.
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