quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Espelho meu... espelho meu...

Diz-me: quem é mais bela do que eu...? Sou eu! Sou eu: Hathor!
Dois espelhos feitos com folha de ouro, prata, vidro e alabastro egípcio; os cabos são de madeira cobertos com folha de ouro e têm as orelhas de vaca que simbolizam Hathor.
XVIII Dinastia -reinado de Tutmés III (c. 1479-1425 a.C.)
No Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque

2 comentários:

  1. Belíssimos artefactos e foto...quem não gostaria de ter um espelho hatórico??

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  2. Ah, com esta bela e comovente imagem de lindos objectos de toucador podemos terminar em beleza o ano de 2010 - que para mim, confesso em particular confidência, foi um ano maravilhoso!

    Sim, quem não gostaria de ter um desses bonitos espelhos hatóricos, e já agora um dos vasinhos e boiões para conter unguentos perfumados, que na imagem postada pela Hermínia se vêem, feitos de alabastro, faiança, mármore, brecha e prata, alguns dos quais debruados a ouro nos rebordos das tampas e bocas dos recipientes. Aquela gente (os que podiam...) sabia viver bem e fruir os bons momentos da vida.

    Agora imaginem a cena: a dama ou o senhor (trata-se de objectos para ambos os sexos) no toucador da casa a fazer a sua cuidadosa toilette, retirando de dentro dos recipientes o perfume, parte do qual poderia ser depositado numa das tais «colheres» cujos cabos em geral representam raparigas nuas segurando patos ou gazelas, e começava-se a impregnar com aqueles odores tão apelativos.

    Depois, já com os cheirinhos todos, e com as cores dos lábios e do rosto avivadas, com os olhos bem debruados com o traço escuro da galena e da malaquite, convinha olhar para o espelho para ver se estava atrente. Ora espelhos há muitos - mas os espelhos egípcios de toucador tinham a parte superior em forma de disco de prata (como o do exemplo em cima), de ouro ou de bronze.

    Estão a ver? Ao olhar para o espelho o seu utilizador estava a ver o seu reflexo no disco lunar (se fosse de prata) ou no disco solar (se fosse de ouro ou bronze), participando assim na harmonia cósmica. Afinal os cabos desses espelhos são elementos de sustentação de astros celestiais onde os seus proprietários reflectem os rostos.

    Pois é, o cabo tinha a forma de uma flor de lótus estilizada que abria em cima onde encaixava o disco que era bem polido para reflectir o rosto de forma expressiva. Mas antes de a flor de lótus abrir em cima em amplo leque estava o sorridente rosto da deusa Hathor, com as suas típicas orelhas de vaca - e Hathor era a deusa do amor, da alegria, da fecundidade...

    E depois de se mirarem bem no espelho, agarrando com emoção no profiláctico cabo do objecto, vendo a imagem de Hathor olhos nos olhos, tendo talvez na outra mão uma «colher» de perfume, apertando com suave firmeza ou com firme suavidade o cabo onde se sentiam as curvinhas da jovem nadadora, o participante no convívio estava pronto para o encontro...

    Não... ainda não estava pronto, faltava um pormenor importante: eles e elas cobriam então a cabeça, cujos cabelos eram por vezes cuidadosamente rapados, com uma vistosa cabeleira negra sobre a qual seria depois colocado em cima um cone de perfume para que fosse derretendo e caísse pelos cabelos.

    Essas essências odoríferas, algumas das quais vindas do exótico país de Punt, deixavam elas e eles a cheirar muito bem, e certamente que se espalhariam pelos corpos, vestuário, cabeleiras e pelas salas de banquete e de folguedo para em haustos inebriantes serem sorvidos pelos felizes convivas. Esses odores perfumados ficariam sem dúvida muito tempo perdurando nos espaços de encontros amorosos, propiciando os bons momentos que se desejavam também para a eternidade.

    E pronto, já vos entusiasmei o suficiente para irem passar um bom fim de ano!

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